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Três Dias de Brasil no coração de Los Angeles

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Segunda Edição do Los Angeles Brazilian Film Festival foi opção de entretenimento por três dias na cidade. Os grandes astros não deram as caras, mas quem apareceu deu conta do recado. De Glauber Rocha, passando por Zelito Viana e Hugo Carvana, festival mostra um pouco da nova cara do cinema brasileiro e parece ter dado certo. Quem se deu bem foi o cara da foto: Murilo Rosa roubou a cena, além de ser clone do Aragorn!!!

O inglês deixou de ser a língua oficial falada em Los Angeles entre os dias 12 e 15 de março, quando os filmes integrantes da segunda edição do Los Angeles Brazillian Film Festival e diversas celebridades nacionais disputaram espaço com os grandes lançamentos de Hollywood. Entre as celebridades que desfilaram no Tapete Vermelho, destaque para o sempre charmoso e simpático, Murilo Rosa que não só conquistou o prêmio do Júri Popular de Melhor Ator, por Orquestra dos Meninos, como também cativou os participantes e ganhando inúmeros novos fãs. Na programação, Meu Nome Não é Johnny saiu aclamado como Melhor Filme e registrou a melhor reação de público, sendo ovacionado pela exigente platéia do Landmark Theatre.

Entre os convidados ilustres estavam Marcio Garcia, atualmente no elenco da novela Caminho das Índias, que participou para apresentar seu filme Carmo. O ator e apresentador recebeu um prêmio de excelência por seu trabalho e ficou muito emocionado com o reconhecimento. “Seria pretensão minha dizer que já sei dirigir e que sou espetacular nessa função, mas ser premiado com o primeiro trabalho é muito encorajador”, comentou Garcia, durante o tapete vermelho da cerimônia de abertura. “Seja na TV ou no cinema, o importante nesse momento é que não paro de trabalhar e é isso que importa para mim. Trabalhar, sempre”.

Em noite quente de Los Angeles, os holofotes provocaram uma rápida mudança no visual de Garcia, que abandonou a jaqueta de couro e procurou se refrescar longe das luzes para evitar o suadouro. “E eu achava que iluminação de estúdio já era forte o suficiente”, brincou. Isso foi só um preparativo para o dia seguinte, quando Marcio Garcia foi homenageado por Carmo com platéia lotada.

VESTINDO A CAMISA

Divulgador incansável de Orquestra dos Meninos, Murilo Rosa marcou sua terceira viagem a Los Angeles com simpatia habitual, mas declarou seu amor pelo cinema engajado. “O cinema é um lugar onde posso discutir temas que considero importantes, como o desemprego ou outros problemas sociais”, comentou o ator, que acabou de filmar o longa-metragem No Olho da Rua, dirigido por Rogério Correia. “Tive a felicidade de interpretar Otto, um metalúrgico que perde o emprego depois de 20 anos e não consegue se recuperar. O filme deve ficar pronto no fim de 2009.

Perde família, casa, amigos e se transforma num mendigo. É a infelicidade do tema, mas a realidade do fato”.
Orquestra dos Meninos participou do LABRFF pela segunda fez e deve ser exibido também em mostras em Chicago e outras cidades norte-americanas. “O filme tem circulado bastante e sendo bem recebido, especialmente na Europa. O tema é relevante e mostra que a educação pode ser transformadora e, acima de tudo, que há pessoas dedicadas a provocar essa mudança”, cometa Murilo Rosa. “O simples fato de se fazer um filme sobre o assunto, ou divulgar o tema de forma produtiva, contribui para a melhoria da educação”. Ele participa de diversos programas beneficentes da Rede Globo, mas sem exageros. “Colocar o pé no freio é importante, pois se começa a se envolver demais, corre o risco de se ver atrelado a alguma coisa que não acredita ou apóia realmente, então diminui meu ritmo”.

De acordo com Rosa, “trabalhar ou mudar para o exterior não é uma prioridade ou algo que procure. Se acontecer, seria conseqüência, mas sem a menor chance de viver em Los Angeles. Tenho minha família no Rio de Janeiro, meu filhinho e isso basta”. O objetivo atual é fazer filmes relevantes e divulgá-los ao redor do mundo para reforçar a qualidade brasileira e fazer novos contatos. “Comunicação é fundamental e conheci tanta gente dessa vez em Los Angeles, aliás, essa foi a viagem mais produtiva em termos de conhecer pessoas em coisas novas”. Murilo Rosa foi premiado como Melhor Ator pelo Júri Popular. “As lágrimas do espectador recompensam todo o trabalho desse filme”, decreta o ator.

NA TELA
O grande homenageado do festival foi Glauber Rocha, que teve diversos de seus filmes exibidos por conta do aniversário de 70 anos ao cineasta. Paloma Rocha, sua filha, marcou presença não só no tapete vermelho, como também na telona. Além de trazer as obras restauradas do pai, ela, ao lado do marido e cineasta Jair Pizini, exibiram o documentário Anabazys – Anatomia de um Sonho, que retrata Glauber nos bastidores, suas motivações e modo de trabalho para A Idade da Terra. “Glauber sempre teve espaço nos festivais ao redor do mundo e também na comunidade cinematográfica. Sua relevância é sentida em diversos grupos interessados pelo cinema brasileiro e poder gerar esse contato com o público norte-americano é muito feliz”, comenta Paloma.

Filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, que é muuuuuuuuuito foda e só faltava trilha de Sergio Leone pra parecer bang-bang à italiana! hehe, e Terra em Transe integraram a programação oficial, que registrou boa participação de público, porém, a composição mista da platéia impediu grandes manifestações de apoio ao longo dos três dias de festival. Muito recatados, os norte-americanos aplaudiram em alguns momentos e parecem ter concordado com a premiação da mostra, pois apoiaram claramente filmes como Meu Nome Não é Johnny, Dezembro, Orquestra de Meninos e demonstraram carinho especial por Os Desafinados.

O longa que abriu o LABRFF, Uma Bela Noite para Voar, também causou opiniões mistas. O humor brasileiro, ou nossas intrínsecas relações políticas, parecem não serem de fácil digestão para o público local. O tom teatral de José de Abreu, Marcos Palmera e Mariana Ximenez convenceu a brasileiros em alguns momentos, mas distraiu os americanos, claramente habituados a roteiros mais dinâmicos que o apresentado pelo filme de Zelito Viana. Ou seria a sugestão de que a paranóia anti-comunista norte-americana fomentou a Ditadura Militar no Brasil? O filme poderia ser melhor, sem dúvida, mas parece amador em alguns momentos. Escreverei sobre ele em breve.

O sucesso de público, porém, vai além das opiniões de seus participantes. Havia busca por ingressos para os filmes mesmo há poucas horas do encerramento do LABRFF. Salas sempre cheias. Públicos de diversas idades e grande divulgação na população universitária da UCLA foram provas de que o cinema brasileiro causa interesse, promove a integração dos povos e, claro, apresenta nossos novos talentos à capital mundial do cinema. Selton Melo e Rodrigo Santoro são unanimidades, mesmo em Hollywood. Selton, inclusive, despertou opiniões positivas tanto como ator como quanto diretor. Parece o começo de um grande sonho, tão boêmio quanto um bando de Desafinados e tão intenso como um certo Johnny.

por Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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