Semana passada, deparei-me com um post peculiar num blog que acompanha a ficção científica brasileira sobre a escolha do Rio2C para os projetos que tentariam a sorte para vender uma adaptação de livros de ficção para o cinema na sessão chamada “Pitching Editorial”. Para quem não sabe, “Filhos do Fim do Mundo” foi um desses escolhidos e viajei ao Rio de Janeiro com o único objetivo de convencer alguma produtora ao tirar esse sonho do papel. Aliás, fico devendo um artigo com fotos e perspectivas dessa experiência cara e que, até agora, não rendeu nada.

Antes de continuar, faço um convite:

Visite o Especial Rio2C

Em dois textos, contei como foi participar do evento e fiz um Guia para Autores interessados em participar das demais edições do Pitching Editorial.

Parte 1

Parte 2

Enfim, duas coisas me chamaram atenção no post. O texto, cujo autor desmerece tudo que eu faço há décadas, falou em “causou profundo mal estar (sic!) e revolta entre os candidatos rejeitados” e “nível de leviandade” do evento. O argumento é o não ineditismo das obras selecionadas. Bem, não posso falar sobre os demais selecionados – vi projetos bem bacanas lá e eles causaram interesse dos produtores de audiovisual presentes -, mas falo por mim. O edital não era tão definitivo nesse sentido, por isso, depois de participar de um evento explicativo fornecido pela organização, entrei em contato e consultei sobre a possibilidade de uma obra fora de catálogo e com contrato para nova publicação poder participar. A resposta foi positiva. Logo, inscrevi o projeto.

Aproveitando, eis o texto OFICIAL do site do evento sobre quem poderia se inscrever:

O PITCHING EDITORIAL é para autores com ideias originais independentes ou representados por agentes literários/editoras. Pode ser uma obra literária (livro) ou História em Quadrinhos.

Com o pitching os autores podem apresentar suas ideias para players do mercado audiovisual (ou seja uma historia, um livro, um quadrinho pode se transformar em filme, série) e editorial (sua ideia pode virar um livro). É dar a oportunidade para esses autores de captação de investimento e conexão com o ecossistema – players do mercado audiovisual e editorial.

https://www.rio2c.com/mercado/mercado-editorial/

Ou seja, um livro já publicado que “pode se transformar em filme, série” estava TOTALMENTE no radar do evento. Isso sem contar outro elemento muito importante: eu reescrevi o livro, logo, a versão apresentada é sim inédita. Quem realmente acompanha minha trajetória sabe disso. Quem só corneta de longe não faz ideia.

Mas quem critica baseado no achismo, para variar, fala besteira. “Filhos do Fim do Mundo” não foi meu único projeto inscrito. Enviei mais duas propostas, ambas igualmente inéditas como livros e longas-metragens, veja só, MEU objetivo aqui não era pleitear uma editora, mas sim pleitear uma adaptação. A organização do Rio2C escolheu uma delas, para minha alegria. Também submeti um projeto em outra categoria, onde também fiquei de fora. A seleção do Editorial foi feita por uma comissão de editores, produtores e notáveis do meio, logo, tudo que os escolhidos criticados fizeram foi realizar a inscrição. Não há margem para acusação de leviandade ou questionamento das obras selecionadas. Quero imaginar que houve uma RAZÃO para as escolhas, afinal, a seleção final envolve obras de editoras distintas, vários independentes e temas que praticamente não se conversam. Tinha romance, quadrinho, coletânea, verídico, ou seja, conteúdos bastante ecléticos.

Razões?

Será que os jurados checaram datas de publicação prévias ou o status de cada obra? Teríamos que perguntar a eles. Escolhas subjetivas habitualmente causam algum tipo de revolta, afinal, cada autor conhece seu valor e almeja o reconhecimento, com toda a razão. Rejeição é complicada e presente no dia a dia de quem produz, especialmente de quem escreve muito mais do que eu. Lembre-se, se alguém conhece meus limites, de verdade, sou eu. E eu sou muito mais crítico a cada linha que escrevo do que qualquer blogueiro.

Agora, você me conhece, não vou deixar isso passar. Claro que não. Por uma razão bem simples: tem que agregar valor. Nem toda história cabe no cinema ou no audiovisual. Muita gente me “acusou” de escrever um livro com cara de roteiro de cinema. Adivinha? É de propósito. Goste ou odeie, minha referência vem do cinema e ela se manifesta na minha limitada bibliografia. E, adivinha de novo? Na hora de tentar vender um projeto pro audiovisual, isso FAZ DIFERENÇA. Muitos livros de FC são inadaptáveis no cenário de produção atual. Não temos o hábito nem de abordar o tema, quiça encarar filmes difíceis de serem comercias nas telas. Não é fácil tentar vender FC. Eu mesmo nunca vendi no Brasil, mas, pouco a pouco, estou construindo um repertório com as produtoras.

Além disso, saber vender o peixe dentro do que foi pedido era fundamental. Por mais legal que a história possa parecer na nossa cabeça, ela precisava estar organizada de modo a se tornar um filme LUCRATIVO. Vamos fazer um exercício mental aqui: E SE, dentre todos os projetos enviados, os com mais potencial de ter chance naquelas rodadas brutais (não foi nada fácil) estavam fora do aspecto do “ainda não publicados”? As rodadas de pitch tinham um objetivo e a seleção queria escolher os mais fortes. Pode ser um cenário possível, não? Novamente, não sei. Mas basta pensar nessa alternativa para quebrar argumentos de revolta, sacanagem, etc.

Muita coisa pode ter acontecido lá e só os jurados – que votaram SEPARADAMENTE e em múltiplos títulos por categoria – saberiam dizer.

Colocar os selecionados na reta e atribuir a eles alguma culpa é jogar sujo.

O Pitch Editorial foi perfeito? Longe disso, foi difícil em praticamente todos os aspectos. Foi uma primeira experiência e quem foi, basicamente, foi boi de piranha para, com sorte, versões melhoradas nas próximas edições do Rio2C que beneficiarão muitos autores e autoras da FC&F brasileira.

Às vezes, falta perspectiva a quem deveria pensar no futuro do gênero que está habituado a olhar séculos à frente, mas cujos atores ficam presos ao imediatismo e a informações mais rasas que os próprios narizes.

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

Recomendado para você