42

Um homem de fé. Um homem capaz de aguentar um tranco. Uma revolução no beisebol e na sociedade. Essa é a história de “42”, com Harrison Ford.

O norte-americano é apaixonado pelo beisebol. Por seus números, grandes jogadas e, acima de tudo, pelas lendas do esporte. Houve um tempo em que, assim como tudo no país, o beisebol era segregado. Negros jogavam com negros, em estádios caindo aos pedaços no interior, e brancos jogavam com brancos, nas capitais e atraindo toda atenção. Assim como na educação, na medicina e no resto da sociedade, isso precisava mudar. Infelizmente, a mudança precisava vir de dentro, ou seja, cabia ao homem branco perceber que o homem negro era igual e, no fim, ambos eram apenas homens. Muitos fizeram isso, um deles foi Branch Rickey, dono do então Brooklin Dodgers (leia mais sobre o Dodgers aqui), que, em 1946, resolveu quebrar as barreiras raciais e contratar Jackie Robinson para ser o primeiro negro a jogar na Major League. “42” conta essa história. E é de arrepiar!

Fazia tempo que não via Harrison Ford num papel tão inspirado interpretando Rickey. Aliás, ele vem numa sequência empolgante e, em breve, volta aos cinemas com “O Jogo do Exterminador”. Sério, cativante, justo e duro quando necessário, o personagem vai além do “branco bonzinho” e mostra as aspirações, dúvidas e crenças dos homens daquela época. Ele quebrou a tradição, mas estava só na luta contra um sistema baseado no ódio e no desrespeito. Num parênteses literário, parece até o que Paulo Coelho está tentando fazer pela “Fantasia Brasileira”.

É impossível falar de um filme assim sem recorrer ao discurso social e a alguns clichês, mas, assim como filmes de Segunda Guerra são feitos para que ninguém se esqueça das mazelas da guerra e do holocausto, trabalhos baseados na história dos Estados Unidos ajudam a compreender o passado e melhorar o futuro. Tendo nascido no final da década de 70, no Brasil que nunca viveu segregação, ainda é difícil entender como as pessoas toleraram aquela atrocidade por tanto tempo. Agora, morando aqui, vejo traços da separação racial por todos os lados. Ela pode não ser mais institucionalizada, mas os bairros negros, os redutos latinos ou asiáticos, o comportamento social não escondem algo que durou tanto quanto marcou gerações e gerações.

Harrison-Ford-42

42” é tão empolgante quanto “Remember the Titans”, a aquela atuação magistral de Denzel Washington, ou mesmo “The Express”, em ótimo trabalho de Rob Brown e Denis Quaid. A visita ao passado permite ao espectador entender quem eram aquelas pessoas, como funcionava aquele tempo e, com o benefício do conhecimento do futuro, torcer não para que suas empreitadas dessem certo, mas para que funcionassem logo e encontrassem um final feliz. Tudo isso sem ser piegas.

Afinal, o beisebol é o pano de fundo e discutir o esporte em si também faz parte da proposta. Jackie Robinson é uma lenda. Não por ser o primeiro negro a jogar entre os brancos, mas por ser um dos melhores jogadores da história, reverenciado por todos que amam o esporte até hoje, tanto é que, uma vez por ano, TODOS os jogadores da MLB (Master League of Baseball) vestem o número 42 em homenagem à carreira de Robinson.

Rickey pode ter sido bondoso e se beneficiou, mas, no processo, transformou o beisebol para sempre por conta das jogadas, roubadas de base e rebatidas de um jogador monstruoso. As razões raciais podem até ser desconhecidas pelas novas gerações, mas a realização dentro do campo será eterna. E, por isso, “42” é um filme que merece ser assistido, seja pelo trabalho fantástico de Harrison Ford, pela história ou pela direção acertada de Brian Helgeland.

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

Recomendado para você

2 Comments

  1. Remember the Titans está marcado indelével na minha memória. Ainda arrepia ter assistido morando nos EUA.

  2. Otima resenha Barreto , sinto de saber sobre filmes mais independentes que nao sao alardeados nos blogs especializados , como Omelete , Judao e o Cinema com Rapadura , eu vi esse filme por varios sites de filmes online (MORO NA ROÇA E MINHA NET É A VAPOR) Mas da pra ver em sites com filmes online nao é em HD mas pra quem é viciado em filmes pra mim é o bastante , espero que vc que recomende mais filmes que nao sao tao famosos , valeu pela resenha essa semana verei este filme obrigado Barretao , inte.

Comments are closed.