[Review] Supernatural: A Hora da Grande Abóbora

Véspera de Halloween garante empolgação aos fãs de Supernatural, mesmo com escorregada na parte mitológica.

Melhor série ligada a mitos sobrenaturais em atividade na TV norte-americana, Supernatural exibiu ontem o episódio It’s the Great Pumpkin, Sam Winchester, o especial de Halloween da quarta temporada. Desta vez, os irmãos Winchester precisaram enfrentar um demônio ligado às origens do Dia das Bruxas, porém, o grande atrativo do capítulo é a presença dos anjos Castiel e Uriel, que surgem com propósitos misteriosos e uma missão fundamental para a Batalha entre Bem e Mal.

Contém spoilers.

Um sujeito come um doce da cestinha de Halloween, sem a esposa ver, e, quando se dá conta, sente algo em sua boca. A câmera ousa e leva o espectador para o interior da boca, há alguma coisa presa no topo. Há sangue. Em pouco tempo, nota-se uma lâmina de barbear. Estava dentro do doce! O homem a retira, mas o problema não para por aí. Ele cospe mais uma, outra e outra e cai. Morto. Aí começa o episódio.

Essa foi a primeira de três mortes que precisa acontecer para que o demônio Samhain seja invocado e, com isso, mais um dos 66 selos que protege a Terra do ressurgimento de Lúcifer seja rompido. O bicho feio em questão é uma entidade que surgia no mundo Celta em na noite que mais tarde se transformaria no Dia das Bruxas, chamaria os mortos de volta e provocaria uma matança sem limites por onde passasse.

Muito mais que qualquer outro episódio de Supernatural, It’s the Great Pumpkin – referência direta ao especial de Halloween do desenho animado Snoopy – usa e abusa da licença poética para dar sua versão para a gênese da data. Vale lembrar que a primeira temporada foi uma das melhores em termos de apresentar versões para lendas urbanas e outros mitos dos quais todo mundo ouvia falar, mas ninguém sabia ao certo o que era. O caso do Windigo e a Shtriga são dois grandes exemplos disso. Porém, o Halloween é solo sagrado para muita gente, afinal, o festival que marca o ano novo pagão no hemisfério Norte apresenta vasta literatura de apoio e muitos conceitos definidos que a roteirista Julie Siege (que assinou roteiros do fracasso Invasion, da Warner) mudou um “pouquinho”.

Um pouco de história antes. De acordo com as pesquisas e estudiosos, a definição que Sam deu está quase certa. A noite de hoje é o dia no qual o véu entre o nosso mundo e o outro mundo cai e os espíritos podem trafegar livremente. Aliás, os roteiristas de Buffy – A Caça-Vampiros brincaram bem com isso, pois a caçadora ficava de folga na noite de Halloween, afinal de contas, os fantasmas e outros seres poderiam voltar, mas sem causar mal a ninguém. Havia uma espécie de pacto nesse caso.

No caso de Supernatural, a primeira confusão surgiu ao emprestar o nome original do festival – Samhain, que significa fim da colheita ou final do verão – para o “sangue ruim” do episódio. A cada 600 anos, um ritual pode ser realizado para invocar um sujeito, que por sua vez vai levantar os mortos (referência ao conceito religioso dos espíritos vagando pela Terra) e fazer a festa, no pior sentido da palavra. Dadas as devidas proporções, seria o mesmo que dizer que os “Três Reis Magos” chacinaram metade das crianças da Galiléia enquanto procuravam pelo Bebê Jesus. Humm, parece promissor. =)

Seria interessante personificar o festival, afinal o conceito de deidade do mundo antigo até possibilitava que alguns povos vissem seus “deuses” como seres humanóides. Os gregos, por exemplo, adoravam isso. Mas personificar, misturar os conceitos e transformar algo que era fundamental na sociedade pagã européia ficou ruim. O festival em si tinha a função de celebrar o final das colheitas, permitir que os mortos do ano cruzassem a fronteira para o outro mundo e, acima de tudo, dava a oportunidade para as famílias terem contato com seus entes queridos. Com a entrada do catolicismo na Europa, tudo isso se transformou no Dia de Todos os Santos (sei, sei) e no Dia de Finados. Complicado encarar conceitos tão profundos como esses e transformar tudo numa “noite onde ninguém deixava as crianças saírem” cheia de morte e sangue. Supernatural sempre prestou um serviço às crenças e mitos não-cristãos, mas, dessa vez, escorregou, afinal, deu a impressão de que a noite de hojé pode ser um evento consumista (versão norte-americana) ou data sanguinolenta e demoníaca (a versão do roteiro para o festival pagão). Exageros em ambas as versões, como sempre, a verdade está aí no meio. Pelo pouco que se sabe, os celtas não eram bonzinhos, mas também não adoravam demônios.

De fato houve uma descaracterização histórica e religiosa no meio disso tudo, mas, em termos de desenvolvimento da temporada, a coisa só melhorou. Claro que Dean e Sam se metem na história, mas não fazem idéia de que a briga é mais feia do que imaginam. Não fosse por mais uma intervenção divina de Castiel e do recém-chegado, e mal-humorado, Uriel, os irmãos Winchester teriam ido para o beleléu antes do esperado. Assim como na Bíblia, se apareceu um anjo, pode apostar lá vem notícia ruim. Há um teste em andamento, mas a dupla dinâmica não sabe. Tudo tem a ver com a quebra dos selos que libertará Lúcifer e toda a meleca guardada no inferno, mas, há outro motivo, subliminar e não dito ao longo do episódio.

É o destino dos Winchester em jogo. Dean sabe de sua importância para “o cara lá de cima” (oi Xuxa!) e peita os anjinhos. Não seria muito surto imaginar que ele pode estar no caminho da provação para se tornar mártir, santo ou algo que o valha para Deus. Ele foi provado em batalha, mas se passou ou não, só o Todo-Poderoso pode dizer. Já Sam entrou na mira do enfezado Uriel (Smite first, ask questions later) e é bom pensar duas vezes antes de fazer coisas estúpidas como passar no farol vermelho ou não ajudar uma velhinha a atravessar. Claro, não usar poderes “profanos” para exorcizar demônios também ajuda!

A construção da trama em torno do eventual retorno de Lúcifer está ficando interessante, especialmente agora que apareceu um anjo da ala radical em relação aos humanos. Castiel é gente boa e aquele visual Kyle Reese (o pai de John Connor em Exterminador do Futuro) ou o Connor McLeod do primeiro filme aumenta o interesse pelo sujeito, agora Uriel é seguidor da linha “anjos são bacanas, humanos são macacos”. Embora a inveja angelical não seja novidade, essa faceta apimenta um pouco a situação.
It’s the Great Pumpkin, Sam Winchester vai bem em termos estruturais, mergulha bem na mitologia – embora cheio de confusão e elementos inventados ao bel prazer do roteiro – e dá mais um importante passo na história principal da temporada. Porém, ficou abaixo dos últimos episódios ( especialmente In the Begining, Yellow Fever e Monster Movie), que elevaram, e muito, a qualidade da história tanto em termos dramáticos quanto na comédia (ponto sempre forte do seriado).

No episódio de ontem, um dos melhores momentos foi ver Dean, o cara capaz de encarar demônios e de sair do inferno (ok, com uma ajudinha) levar a pior contra um gordinho vestido de astronauta! Mas é isso, aí! Halloween! Doce ou Travessura! Só não se esqueça de checar sua casa em busca de feitiços antigos ou de guardar um docinho pro gordinho, ele pode ser o pior de seus pesadelos!

O episódio foi visto por 3,5 milhões de pessoas, mas Supernatural ainda ocupa a 105 colocação na programação geral de TV a Cabo. Dados da Nielsen.

Duas perguntas:
– se os anjos precisam TANTO de Dean, por que ele quase morreu de medo em Yellow Fever e ficaria “chocado” em Monster Movie e nenhum deles apareceu?

– eles mataram o Halloween (!?), será que agora vão dar cabo do Papai Noel, que deve ser um demônio gordo que rouba criancinhas na noite de natal? :p

Campanha:Vote Dean Winchester para Anjo Júnior em 2009! 😉

15 comentários em “[Review] Supernatural: A Hora da Grande Abóbora”

  1. Hehehe eu tava lendo agora a pouco sobre as crenças celtas e percebi também a bagunça que fizeram com o Samhain, mas… foi uma bagunça bem feita :p

    Eu gostei de todos episódios dessa temporada, mas achei esse ainda melhor que ”Monster Movie” e ”Yellow Fever”. Só não decidi ainda se esse é melhor ou pior que ”In the Beginning” hehehe

    Resposta da pergunta 1: Eles não sabiam que o Dean ia rodar, nesse último episódio o Castiel disse que eles não são oniscientes =D

    Abraço!

  2. @ Lee
    Acho difícil algum episódio bater o “In the Beginning” nessa temporada, já que mostrou muita coisa que todo mundo queria saber, teve o Skinner Pillegi.. hehe.. e ainda mostrou a compra do Impala! 🙂

    Ontem foi bem dirigido, mas teve menos humor que o resto.. e a presepada mitológica me deixou meio pé atrás, sei lá. É bom, sem dúvida, mas perde feio pra semana passada, por exemplo. O Dean com medo do gato e cantando no final, nao tem pra ninguém! :p

  3. @ Barretão

    É… Os três foram os melhores, cada um em um aspecto.

    O ”In the Beginning” foi um excelente episódio, e seu destaque foi por mostrar tantas curiosidades, como você disse.

    O ”Yellow Fever” se destacou pelo humor. Foram as mancadas do Dean, o gritinho de susto com o gato e claro, a completamente sagaz coreografia de ”Eye of the Tiger” no final.

    O ”It’s the Great Pumpkin, Sam Winchester” se destacou pelo grande avanço no plot dessa temporada. Seja pelo teste do Dean, a chegada do Uriel, o Sam novamente usando os poderes e recebendo o ultimato e o próprio Samhain apesar de ”inventado” foi bem badass também. Só faltou, como vc disse, mais humor. A unica coisa engraçada que me recordo foi o rolo com o garoto astronauta hehehe

  4. Dean sabe de sua importância para “o cara lá de cima” (oi Xuxa!)

    Essa foi pra acabar, ahauahuahuahuahua.

    eu voto no Dean Winchester para Anjo Júnior em 2009.

  5. Hum.. Bela review Barretão..Aliás muitos pontos concordantes entre nós..

    Eu tb faço reviews dos episódios, na comunidade e no meu blog..

    Eu vou fazer desse episódio essa semana ainda. Estou atrasada… rsrs

    Mas gostei do que vc escreveu e o melhor estou gostando mais ainda dos rumos que a temporada de Supernatural está tomando.. Anjos, demônios, céu, inferno, humanos, união, força, mentiras…
    Supernatural está ficando muito, mas muito filosófica… Pra um seriado que começou rotulado como “terror teen”, Supernatural está saindo melhor que a encomenda..

    E quanto a ITB (In The Beginning)ser um ótimo episódio, eu acrescento mais: ele não é só ótimo, é excelente. Na minha modesta opinião figura entre os TOP 10 de Supernatural… Ele está lá, juntinho de What is and What Should Never Be (que por mais que eu veja e reveja, ele sempre me emociona como a primeira vez)..

    Um abraço..

  6. ver SUPERNATURAL sendo comentado por aqui é fodastico….. [2]

    gostei bastante do epi d ante-ontem.. pode nao ter sido tao foda qto os anteriores, mas foi bem legal sim.. e foi bom pq resgatou o assunto castiel.. q ja tava ficando distante, ja q a uns 3 ou 4 epis nao tocavam nele.. folga merecida, mas voltemos ao assunto q realmente deve mover a temporada ;p

    sobre a 1a pergunta, vale oq o kara acima disse.. eles nao sao oniscientes..

    e qto a 2a, ja teve um epi q falou do papai noel.. nao lembro exatamente qdo, pq nao sou mto bom d guardar nome d epis, mas axo q foi na 3a temporada..
    só q no final o papai noel na vdd eram 2 semi-deuses (se nao me engano) da mitologia pagã q se vestiam d papai noel pra entrar na casa das familias e comer as criancinhas..

  7. ver SUPERNATURAL sendo comentado por aqui é fodastico….. [3]

    Eles já não enfrentaram o “natal”? Hehehe, acho que já, mas não importa o que eles mudem pra deixar a coisa mais sanguinolenta, eles fazem bem feito e isso é o que importa!

    Mas realmente, nada supera o episódio 3 dessa temporada, teve muitas respostas.

    Mas, putz, o Uriel é muito chato fala sério, o Castiel fica uma coisa bacana, aquele ar de “sabichão” e tudo, mas o Uriel é muito chato.

  8. Olá! Nossa, que bela crítica! Não sei se vc é pagão (me parece que não), mas quem ama a série como eu e é filho da Deusa ficou bem decepcionado com a forma extremamente livre como o feriado mais importante do paganismo foi (mal) usado em Supernatural. Tenho dito desde quinta à noite que o Eric Kripke já quis ‘namorar’, digamos assim, uma bruxa e ela não aceitou.

    Resposta pra sua pergunta no. 2: Lembra-se de “A Very Supernatural Christmas”? Papai Noel tb sofreu um bocado ali. Além de mais um ‘deus pagão’.

  9. Adorei o episódio! Mesmo com as licenças poéticas do Kripke com relação aos mitos, eu achei que a trama foi muito bem conduzida, principalmente com relação aos anjos e sua interação com Dean. Acredito que algumas surpresas bem interessantes estarão chegando nos próximos episódios.
    E podem falar o que quiserem mas, para mim, os poderes do Sam são O MÁXIMO!!

  10. Bom eu gostei dos 4 primeiros dessa temporada e os dois últimos que passaram.Monster movie só gostei quando ficava cômico.Agora o Sam mostrou seus poderes(coisa que eu adoro quando ele usa) e foi difícil viu, pra derrotar o demônio!!! Tanto que ele deve enfraquecer muito quando chega a ter que fazer mais esforço( sangue saído pelo nariz e mais a dor de cabeça tadinho) e todo mundo sabe que nenhum corpo humano aguentaria poder qualquer que fosse e se existisse é claro.Acho que ele pode salvar todos no final (apocalipse) ele demonstrou que se precisar dele e tiver que passar dos limites ele vai sim sem se importar o que vai acontecer com ele.Isso pra mim ficou evidente.Porque como ele disse no último episódio da 3 temporada não era só salvar o Dean e sim á todos também.Barretão valeu e espero ver mais novidades sobre Supernatural e essa temporada que tá muito boa!!! Fuiii!

  11. – se os anjos precisam TANTO de Dean, por que ele quase morreu de medo em Yellow Fever e ficaria “chocado” em Monster Movie e nenhum deles apareceu?

    SEgundo o que o Castiel disse, é pq eles precisam do Dean mas não a ponto de ficar sentadinho no ombro dele pra desfazer todas as merdas que eles fazem (tipo tocar num cadaver sem camisinha, como em Yellow Fever) e os anjos na Terra estão ocupados já

    Se cola ou não ai vai de cada um, mas a explicação “oficial”. Mas cá entre nós: alguem não sabe que os selos VÃO ser quebrados e o tranca-rua vai aparecer só para depois ser mandado devolta com o inferno lá pra baixo pelos Super Winchester Bros.?

Comentários encerrados.

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