optimus

Megan Fox é atrativo meramente estético e Shia LaBeouf é o talentoso da equação, mas sem John Turturro, a nova aventura mecatrônica de Michael Bay teria um destino extremamente desagradável. No fim das contas, o humor de um homem só fez valer horas de pancadaria entre os robozões.

Mais de 1.000 pessoas aglomeravam-se nos jardins da Paramount Pictures, na Melrose Avenue, em Los Angeles. Filas gigantescas, uma equipe de relações públicas exausta – praticamente um mês rodando o mundo – e heróica. Era a pré-estréia de Transformers 2: A Vingança dos Derrotados. O evento dos VIPs aconteceu um pouco mais cedo, no Arclight. Alta expectativa só se assemelhava à falta de informação gerada pelo “buzz” em torno do filme: “é a primeira vez que vão mostrar o filme, vamos fazer parte da história”, diziam alguns jovens ansiosos. Falta de noção. Além das exibições no resto do mundo, a imprensa brasileira já havia visto, por exemplo, e outras projeções tinham acontecido aqui mesmo em Los Angeles na semana anterior, incluindo duas em IMAX. É aquele desejo de “ser importante”. Michael Bay sofre da mesma necessidade e, em sua aventura maior e mais divertida, passou muito perto de colocar tudo a perder. Foi salvo por John Turturro, inquestionável como melhor ator do elenco, dos dois filmes.

SPOILERS!

Em termos de ação, realmente, esse segundo capítulo humilha o anterior. Líder Optimus encarando vários inimigos simultaneamente, num balé metálico e envolvido naquela aura digna de um paladino, é de encher os olhos. Praticamente Boromir encarando os uruk-hai para salvar Merry e Pippin. Com a tecnologia pronta, ficou fácil aprimorar tudo e, claro, expandir horizontes. Entretanto, pura obrigação. Ninguém pagaria para ver os mesmos personagens, as mesmas lutas “simples”. Esse é o lado bom de Michael Bay. Quando as coisas começam a explodir, não há ninguém melhor para comandar as câmeras.

Por outro lado, criou um filme desalmado. Exceto por esse momento de poesia pura envolvendo Optimus, não há mais vida emocional em Transformers 2: A Vingança dos Derrotados – título que, agora, além de esquisito, se torna errado; Fallen, que gerou a tradução Derrotados, é um personagem único e não um coletivo; Paramount deve dizer que pensou em todos “os derrotados” do primeiro filme; bem, forçada de barra.

Há alguns meses, vi toda a seqüência na casa dos Witwicky. Era desnecessária e sem graça de forma isolada. Ficou mais isolada, desnecessária e imbecil no meio do filme. Isso sem falar nos cachorros. Elle Woods teve a decência de brincar com a idéia de cãezinhos gays.

Não é típico de Bay ser tão superficial e bobo. Tampouco vindo de roteiristas como Alex Kurtzman e Bob Orci. Até por isso perguntei a ele sobre o teor comercial descarado dessa franquia. “O filme é meu; sem pressão do estúdio, aliás, a única vez que mexeram comigo foi em Pearl Harbor, colocando muito mais romance”, disse Bay. Um discurso, outro resultado. Não é possível torcer pelos personagens principais. Shia Labeouf conseguiu criar empatia no primeiro filme; dessa vez não. Fácil explicação: a dinâmica familiar ficou repetitiva, desinteressante e dispensável.

Entretanto, enquanto a família Witwicky parece ter vínculos genéticos com o Zacarias, o bobo da corte do primeiro filme retorna em grande estilo para salvar o dia. John Turturro empresta dignidade ao filme com seu agente Simmons, agora renomado internauta especializado em teorias conspiratórias e, claro, robôs alienígenas. Se há algo de crítica social em Transformers 2, ele é a ferramenta ideal. Foi demitido do governo, vive com a mãe, não tem atenção do mundo externo e, quando pode salvar a todos, faz questão de colocar a vida em jogo para “morrer defendendo seu país”. O típico americano looser sonhando pelo momento de ser herói. No meio disso surgem as melhores piadas do filme. Não podemos esquecer de que, por trás desse pateta, existe um dos melhores atores do mundo.

Sozinho, Simmons consegue ser imensamente mais interessante, engraçado e dedicado que os demais personagens. Humanos ou mecânicos. O novo burocrata babaca é tão insosso quanto os soldados da equipe NEST, para onde Josh Duhanel e Tyrese Gibson foram designados. “Dá orgulho ouvir amigos que estão nas Forças Armadas dizerem que, por causa do filme, suas famílias entendem como é o dia a dia deles e suas funções”, explicou Tyrese ao SOS Hollywood. A propaganda militar agradece, embora não devesse. Os soldados são descartáveis, sem vínculo com o público e não convencem ao demonstrar emoção em relação a seus companheiros mecânicos. Não comprometem, mas ficaram menos expressivos que os Army Men do Toy Story. E eles não são verdes e feitos de plástico! Aliás, todos os pilotos, operadores de avião sentinela e pessoal de comunicações SÃO militares de verdade.

Há muita confusão organizacional na história, com diversas linhas de raciocínio, muitas explicações, muitos surtos de Sam e, vez ou outra, um novo Transformer pintando e bordando, ou melhor, atirando e explodindo, metade do cenário. Isso sem contar nas inevitáveis, e esquisitas, referências cinematográficas. Tem de tudo, de Roland Emmerich (duas vezes, aliás!), Terminator 3, Van Helsing [Starscream É O IGOR!, Megratron é DRÁCULA… e só tem uma noiva gostosa!] , Legalmente Loira a Riddick. E não é caso de erro no foco e da expectativa, pois o primeiro filme é mais coeso e faz mais sentido, sem tanto esforço.

O grande público não quer saber de nada disso. Quer ver explosão, robôs e Megan Fox. Justo. Mais justo seria todo esse esforço contribuir para um filme inesquecível, dentro de seu gênero, onde foi sinônimo de inovação tecnológica há alguns anos e poderia fazer história novamente. Não faz. Apenas adiciona novos milhões de dólares aos envolvidos. “Corremos risco ao dedicar tantos recursos ao filme 100% comercial? Sim, mas é nosso jeito de dar ao público condições e incentivo de nos visitar [cinemas] mais vezes e reduzir perdas com pirataria, downloads e outros formados”, analisou Lorenzo Di Bonaventura, produtor de Transformers e G.I. Joe. “Ás vezes, pipoca e qualidade crítica se misturam. É raro, mas acontece. Temos que manter a porta aberta e, enquanto isso, agradar ao público no Verão”. Pensando assim, a ofensiva Hasbro nos cinemas é perfeita. Investimento = retorno = mais investimento. Hollywood agradece.

Chamar Michael Bay de exagerado é redundante. Mesmo tendo exagerado em Transformers 2. Exagero bom, porém. O primor da mixagem de som, o estilo agressivo de filmagens e edição [ele nunca começa a filmar sem que outras três tomadas estejam sendo preparadas, para gerar fluxo de produção e cortar custos] e as maravilhas tecnológicas são parte de seu legado. Assim como a boa imagem causada perante a Dreamworks por ter economizado US$ 40 milhões no orçamento. Também exagerou com Megan, exageradamente gostosa e desejável. Um exagero de mulher, cujo exagero na maquiagem sempre oleosa e brilhante, ou nos modelitos vislumbrantes, reforça sua imagem de mulher mais que perfeita. E mais que perfeito não é bom. Pessoalmente é um arraso. Linda [e passou a entrevista toda fazendo carinho no cabelo e ombros do Shia]. Sem exagero. Sem iluminação. Perfeição não requer exageros. Quando se exagera, você pensa em coisas como céu de Transformers e cenas de sexo gay entre cachorros. Afinal, Megan é toda exagerada visualmente, mas na hora do vamovê, quase não beija o Sam. E chega de exagero.

Talvez por isso Turturro tenha superado os colegas. Entregou suas piadas e pirações na medida certa, sem chamar muita atenção. Cumpriu seu papel. Tranformers 2 também faz jus a suas expectativas, especialmente por parte do grande público e deve incomodar Star Trek na briga pelo topo das bilheterias, mas deixa um gostinho de quero mais. Chance desperdiçada de um grande filme, em vez de um filme grande. Assista sem preconceitos… e sem expectativas, pois, como eu, pode se surpreender e entrar no espírito. Viva São Turturro! E viva o Buzz, que tranforma filme mais ou menos no mais aguardado do ano!

BUMBLEBEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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