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Ação desenfreada de Stephen Sommers diverte e não compromete. Alguém quer um pouco de pipoca?

Brincar com os Comandos em Ação ficava frustrante conforme os anos passavam, até que não passava de uma brincadeira boba, de criança. Também pudera, os veículos e bonequinhos cheios de habilidades, armas especiais e histórias cheias de traumas e drama [para quem lia os quadrinhos ou assistia ao desenho animado] não passavam de brinquedos inanimados. Nada de explosões, nada de tiros, nada de jatos lutando no ar. Entretanto, as novas gerações não precisam se preocupar com isso e a brincadeira ganha novo fôlego com os Comandos em Ação, ou melhor, G.I. Joes apontando como sucesso de bilheterias no mundo todo. É a consolidação do império da Hasbro nas telonas. Em G.I. Joe – A Origem de Cobra, nada de complexidade ou cinema artístico. É a pipoca honesta, cheia de coisas impossíveis, mulheres bonitas e brinquedinhos maravilhosos!

Ao longo de quase dois anos como correspondente em Los Angeles, G.I. Joe – A Origem de Cobra foi o primeiro filme cujos envolvidos não tentaram vender como a última bolacha do pacote. Diretor, produtor e atores tinham uma certeza: é um filme divertido. E pronto. Estavam certos. Oras, o que esperar de um filme previsível do início ao fim? Alguém duvida que os Joes vão dar um jeito de impedir os planos destruidores dos Cobra? Ou que o mocinho vai salvar o dia e ficar com seu amor? Mas é a previsibilidade que não incomoda, justamente por não existir a tentativa de potencializar cenas dramáticas [como personagens morrendo por alguns segundos ou alguém ser dado por morto e retornar depois].

Stephen Sommers entende desse tipo de ação maluca, embora saiba dar toques dramáticos e românticos em seus outros filmes. A Múmia, por exemplo, é tão agradável visual quanto estruturalmente. G.I. Joe não servirá como cartão de visita para o diretor, não nesse sentido, e ele também não faz questão. “Recusei a direção quando o ofereceram, depois me mostraram que seria algo mais moderno do que soldadinhos ganhando vida”. Do ponto de vista da coordenação de efeitos especiais a coisa muda de figura. O melhor ator desse filme é o belíssimo pacote de criações miraculosas, de encher os olhos. Nada exagerado, aliás. Na medida certa para não incomodar o espectador mais exigente.

Diferente de Transformers, carregado com uma certa prepotência de Michael Bay, G.I. Joe sabe seu lugar. Sommers escolheu bem seu elenco. Ninguém muito famoso, mas um belo grupo, especialmente para o público masculino que vê seu ingresso valer a pena no momento em que Sienna Miller (Baronesa) e Rachel Nichols (Shana O’Hara) – ela é a alienígena verde de Star Trek – entram em cena. Tão belas na tela quanto pessoalmente, as duas beldades entraram no espírito da “brincadeira de menino” e se divertiram de forma pouco convencional: se espancando até cansarem. “Percebemos que não era brincadeira quando errei um chute e quase acertei a cara da Rachel”, comenta Sienna ao SOS Hollywood. “Até aquela hora era tudo 100% divertido, depois nos concentramos mais. Ninguém queria abrir mão daqui e deixar a briga para as dublês”. As duas levam larga vantagem sobre Megan Fox: sabem atuar.

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A dupla masculina devolve na forma de piadas. Marlon Wayans (RipCord) é improvisador nato e engraçado por natureza, embora tenha aparecido para as entrevistas vestindo terno e gravata, além de iniciar o papo com voz calma e pouco condizente com sua imagem pública de brincalhão. Sua comédia vem a calhar, sem forçar a barra, no mundo fictício de G.I. Joe. Ele provoca risadas espontâneas em Channing Tatum (Duke), à vontade em papéis militarizados. “Venho de família militar, então conheço bem o tipo. Não servi no Exército, mas se houvesse alguma convocação, me apresentaria imediatamente”, comenta Tatum, que faz interessante ponta em Inimigos Públicos e, em breve, estréia o curioso The Eagle of the Ninth, ambientado imediatamente após a queda do Império Romano. “Esse filme vai ser diferente, poderei atuar de forma mais intimista e no meio da natureza, estou doido para mudar de ares um pouco. Ficar correndo atrás de nanorobôs pelas ruas de Paris é doido demais para mim” (risos).

As comparações com Transformers parecem inevitáveis pelo grande número de semelhanças entre as duas propriedades: Hasbro é dona das duas marcas; Lorenzo di Bonaventura produziu ambos; Paramount Pictures distribuiu; a preocupação com histórias globalizadas é compartilhada; e, acima de tudo, a tecnologia exerce papel mais relevante que seus respectivos elencos. Entretanto, G.I. Joe leva melhor sobre os robozões. É mais simples, logo, erra menos.

Ou melhor, ousa com mais tranqüilidade. E diverte no meio desse processo. Custou quase US$ 140 milhões [maior parte gasta com efeitos especiais] e deve se pagar com facilidade, especialmente por apostar na boa performance internacional apoiados não apenas em seu elenco principal, mas num grupo de apoio de respeito. Orgulhoso por trabalhar com a mesma equipe há anos, Sommers chamou alguns amigos para pontas e papéis menores. Dennis Quaid lidera os G.I. Joes como General Hawk, mas a surpresa fica por conta do elenco de A Múmia: Brendan Fraser, Arnold Vosloo (Imhotep), Kevin J. O’Connor (Beni) dão as caras. Além disso, Jonathan Price e Christopher Eccleston completam a célebre lista. Irreconhecível sob a máscara de Snake Eyes está Ray Park, o Darth Maul de Episódio I.

Aliás se você precisar de uma razão para ver o filme [claro, se Sienna Miller e Rachel Nichols não forem o suficiente], assista para ver os pegas entre Snake Eyes e Storm Shadow, os ninjas! Que ninjas! Última vez que vi um ninja em Hollywood foi em Speed Racer, ou melhor, aquela versão tosca de ninjas. Esses não, são sujeitos sérios, não levam desaforo para casa e roubam a cena. Coisa linda de se ver!

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Sommers jogou todo esse pessoal, uma trama cheia de mistérios e ganância, milhões em efeitos especiais e uma propriedade de renome num caldeirão e mexeu bem. O resultado é um filme despretensioso, que cumpre o pensamento de seu produtor [“traduzir o que as pessoas pensam ou não querem imaginar”], tem noção de sua natureza meramente comercial e deixa tudo pronto para a inevitável continuação.

Não há nenhuma grande atuação; algumas cenas de ação são memoráveis, como o combate submarino, que remete a 007 Contra a Chantagem Atômica, e a perseguição nas ruas de Paris; e o único presente para o público é uma coleção de exclamações e surpresas pelas realizações visuais. Nada mais. Do jeito que um blockbuster deve ser e como todos os brinquedos deveriam funcionar, claro, sem as armas letais e nanomáquinas controladoras de corpos e destruidoras de metal! Apertem os cintos e aproveitem o passeio.

A montanha-russa só acaba na última cena.

E se você, como eu, também tiver vontade de comprar dois helicópteros, metade das armas e arrumar uma daquelas armaduras aceleradoras, não se preocupe, Stephen Sommers acha que daqui uns 15 anos tudo isso estará disponível! Só espero estar milionário até lá! =D

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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13 Comments

  1. Vou ver se arranjo disposição para assistir ao filme, eu gosto de quando ocorre isso um filme que vc n dá nada para ele de repente é muito divertido, ao contrário de um que vc espera demais chega lá e é uma aberração, como muito aconteceu nessa temporada de verão!
    A sim, Barreto vc está escrevendo atualmente as melhores críticas de filmes da blogosfera brasileira!

    1. Pô, João! Não se é pra tanto, mas fico muito feliz com o elogio. Mesmo. =D
      O melhor é escrever pra um público seleto! Só umas 200 pessoas passam aqui por dia. hehehe.

      Aliás, gostou do lance de ter conteúdo novo diariamente? Chegou a notar que essa semana rolou matéria todo dia?

      abs,
      Fábio

  2. Eu nem vou falar nada, ja sou suspeito pra dizer alguma coisa aqui !

    Depois da entrevista com o Zachary, da cobertura do poderoso: “It Might Get Loud”, depois da critica inteligente de Transformers… Eu to ansioso pra ler aqui a critica de “Where the Wild Things Are”

    Realmente o João Vicente não foi nada exagerado quando afirmou: “Barreto você está escrevendo atualmente as melhores críticas de filmes da blogosfera brasileira!”

    Agora voltando ao universo do fanboy… “Sienna Miller e Rachel Nichols” Ah eu vou endoida !!!

  3. Olá Fábio, gostei da sua colocação sobre o filme. Assisti o trailer esta semana, e fiquei maluco com as cenas de ação. Se houver algo além das cenas do trailer, valerão o ingresso e uma grande tarde/noite de diversão.

  4. Muito bacana a honestidade do filme, o tapa na cara de Transformers 2, ao que parece. Acho importante o entendimento das pessoas da proposta de um filme, e a avaliação do mesmo segundo esta proposta. É muito válido um filme apenas pra divertir, principalmente se ele não quer fingir ser mais que isso.

    “A sim, Barreto vc está escrevendo atualmente as melhores críticas de filmes da blogosfera brasileira!”
    Concordo com o João Vicente!

  5. Então Barreto cheguei sim a ver essas atualizações diárias, e adorei, a melhor coisa que tem no trampo é vc conseguir matar o tempo lendo sites com um conteúdo bem sólido e que o leve à reflexão, continue com o sos hollywood melhorando a cada dia q passa!

  6. Olá… acabei de descobrir esse novo endereço do SOS… tenho andado um tanto desatualizada. Já coloquei nos meus favoritos!

    Amei a crítica! Muito bem escrita.
    Se você recomenda, com certeza vou ver… porque confesso que não estava animada para ir ao cinema ver filmes de ação. Tanto que não vi Transformers 2 pois “mais do mesmo” já cansou. As mesmas fórmulas já foram exploradas demais com um toque de arrogância que desagrada… como você mesmo disse, tentando vender como se fosse “a última bolacha do pacote” e como se houvesse uma “profundidade” que estes filmes não têm e nem precisam. Afinal, é apenas diversão!

    Mas é bom, muito bom saber, que um filme honesto está para entrar em cartaz!
    O SOS está excelente… continue assim!

    1. Welcome back, Cris! Tava sentindo sua falta!
      Aproveitando, peço sua ajuda.. divulgue pro pessoal conhecido. Esse monte de mudança afastou muita gente do site, mas agora daqui não saio mais. =D

      Beijão,
      Fábio

  7. Excelente crítica, xará!
    Concordo em gênero, número e grau que não é o filme do ano (para mim, ainda é STAR TREK).
    Todavia, cumpre a promessa e diverte muito a platéia.
    Também adorei o combate submarino, que soa como homenagem a THUNDERBALL e confesso que senti falta de toda essa diversão com mulheres glamourosas e magníficos cenários nos novos filmes de 007, mais sérios e realistas.
    Enfim, finalmente acho que o STEPHEN SOMMERS conseguiu se redimir de VAN HELSING e se G. I. JOE tiver uma continuação, conferirei nas telonas.
    Saudações,

    1. Braga, jogue pedras.. mas.. mas.. EU GOSTO DE VAN HELSING! =D
      heheheh… me divirto de montão com aquele filme!

  8. Nunca gostei dos Comandos, mas essa fita vou ver em DVD exclusivamente pelo castin feminino. Nos filmes sempre é legal ver a mulherada quebrando o pau feroz, hahahaha.

  9. Não sei pq esse texto apareceu aqui no meu Feed,mas depois de ter visto, comprei o BD já.
    É um filme fantástico, sem prepotência e arrogância metida à intelectual.
    Não me lembro de ter vibrado em voz alta no cinema como vibrei no momento em que apareceu a nave Cobra no começo fazendo manobras impossíveis e disparando raios com o mesmo som que eu fazia quando criança e brincava com minha “coleção”.
    Uma pena o destino do ninja branco, meu preferido, mas se não me engano eu tbm tinha um ninja vermelho, quem sabe ele aparece no próximo!
    =D
    Show de bola

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