John King analisa a linha do tempo política na CNN / Foto: Lorenzo Bevilaqua

CNN investe pesado no uso de recursos 3D na cobertura das eleições. É a “nova cara” do jornalismo televisivo.

por Fábio M. Barreto, de Los Angeles

O controle da audiência não é mais o mesmo. O estilo não é mais o mesmo. Nem mesmo o visual que consolidou a CNN como um dos maiores canais de TV do mundo sobreviveu à complicada briga pelo atenção nacional, e internacional, no noticiário televisivo. O radicalismo descarado da FoxNews fez frente à CNN sem respeito ou aviso prévio e abalou as estruturas. Sem Ted Turner no comando, a Cable News Network precisou encontrar um novo modo de ser relevante e uma tragédia ajudou a mostrar que, mesmo com tudo isso, o nome ainda é forte e dita as certezas do mundo. Quando Michael Jackson morreu, o fato só se tornou oficial quando o canal confirmou. Ser relevante foi a receita encontrada – por vezes usada em excesso, como no caso do Balloon Boy -, mas ter uma embalagem bonita sempre ajudou. A FoxNews parece uma bancada de campanha do partido Republicano e tenta ser tão conservadora quanto seus espectadores, sempre dispostos a gritar e criticar seus inimigos políticos. Logo, a CNN apostou na vanguarda, que sempre lhe foi característica e deu resultado. Em 2008, o músico Wil.i.am, do Black Eyed Peas, foi a primeira pessoa a ser transmitida holograficamente ao vivo na TV mundial e agora, novamente nas eleições, o canal resolveu brincar com os recursos 3D e redefiniu os conceitos para uso do cenário do estúdio. É um admirável, e belo, mundo novo.

Faz algum tempo que a CNN usa alguns recursos moderninhos em suas transmissões, como, por exemplo, o painél interativo que permite ao apresentador selecionar imagens, ampliá-las, clicar em sites ou acionar vídeos. Imagine um iPad tamanho família pregado na parede, pronto. No início esse sistema era usado para se fazer diagramas, traçar rotas e destacar áreas num mapa, o que resultava numa bagunça de traços grossos na tela. Todo começo é truncado, fato. Logo isso ficou de lado e a equipe gráfica de Atlanta melhorou na técnica interativa e o resultado se viu nessas eleições. Gráficos flutuando ao lado do apresentador, o mesmo conceito da TV do exemplo anterior agora alongada e capaz de produzir coisas como uma gigantesca linha do tempo horizontal controlável pelo toque de John King, ou mesmo uma Casa Branca 3D com gráficos dinâmicos mudando conforme cada voto era apurado pairando na frente do careca Ali Welshi. Todos exemplos das estrepulias visuais que o canal utilizou para a cobertura das eleições legislativas, na última terça-feira, nos Estados Unidos.

É uma mudança positiva parte de uma linha de pensamento maior cujo objetivo é atrair a nova geração para o jornalismo televisivo. O público já colabora com o iReporter [canal online para onde os espectadores podem mandar fotos e vídeos, cujos mais relevantes são exibidos na programação da TV] e encontrou no irrelevante Rick Sanchez seu “porta-voz”, levando seu programa ao horário nobre, depois de um bom tempo na grade da hora do almoço, lendo comentários do Twitter e Facebook, mostrando vídeos e fotos engraçadas, e, as vezes, arriscando algumas entrevistas na qual falava mais que o entrevistado. É o estereótipo da maioria dos internautas: quer aparecer, ser ouvido, ter seguidores. Até mesmo lançou um livro, amplamente divulgado na maior rede de notícias do mundo.

A CNN quer ser jovem enquanto fala sobre a Casa Branca, quando debate o futuro da nação sem diminuir sua carga analítica e pesada, quando ainda consegue manter sua parcialidade apenas nas pautas escolhidas, já que o tratamento dado pelos veteranos Wolf Blitzer, John King e Candy Crowley é o mais profissional e distante possível. É a velha tática de continuar dizendo a mesma coisa, mas com roupagem diferente e, quem sabe, mais apelo a um público que não gosta muito de pensar, quer opinião pronta e, de fato, está pronto para seguir quem tiver o discurso mais atraente e o terno mais bonito.

Ser vanguardista tem suas vantagens e a CNN sabe disso. Luta contra o radicalismo da concorrência, o aumento dos espectadores favoráveis à ultra-direita e dispostos a ouvir Sarah Palin – que só fala com a FoxNews. Os Democratas estão perdendo espaço e a CNN também, entretanto, o canal tem uma vantagem em relação ao partido: na hora da verdade, ainda é respeitava e relevante. E a manutenção dessa condição é questão de vida ou morte.

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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