Uma derrota descomunal, uma promessa profética, um álbum histórico e Michael Jackson escreveu seu nome na história do Grammy e da música mundial!

por Fábio M. Barreto, de Los Angeles

Uma história inicialmente triste, mas nem por isso histórica, começou a ser escrita quando os indicados ao Grammy Awards de 1979 foram anunciadas. Michael Jackson vivia um momento de muito orgulho profissional depois de ter escrito “Don’t Stop Till You Get Enough” de ponta a ponta e ter visto seu trabalho estrear direto no topo das paradas de sucesso. Esse álbum lhe rendeu seu primeiro Grammy, de Melhor Vocalista de R&B, mas também gerou muita frustração na estrela em ascensão que viu os demais aspectos de seu trabalho serem totalmente ignorados pela premiação. Esse momento, por mais egocêntrico que possa soar, foi simplesmente a gênese de um dos maiores álbuns da história e o primeiro passo da jornada que levou o nome Michael Jackson à lista de maiores vencedores da festa.

Ouça o SOS Cast #6, sobre a Morte de Michael Jackson! Clique aqui!

A tristeza de Michael Jackson ao ser indicado apenas a Melhor Vocalista de R&B é justificada. O álbum Off the Wall foi um fenômeno em 1979, quando a nova parceria com o produtor Quincy Jones (com quem Jackson trabalhou no filme The Wiz, aquela versão afro para O Mágico de Oz), estreou no topo das mais tocadas. De quebra, Paul McCartney deu as caras com, em Girlfriend, canção escrita a quatro mãos com Linda. Quando menciona o início da amizade com Paul, em seu livro Moon Walk, Michael Jackson orgulha-se ao saber que a música foi escrita para ele, antes mesmo do primeiro encontra dos músicos a bordo do cruzeiro Queen Mary, durante a turnê do britânico batizada Wings Over America. “’Don’t Stoy Till You Get Enough’ foi muito importante para mim, pois foi a primeira [música] que escrevi na íntegra; era minha primeira chance de cobrir todo o processo e, ainda por cima, me deu meu primeiro Grammy”, comenta Jackson. “Confesso que fiquei empolgado com o anúncio das indicações, mas só recebi uma. Senti como se tivesse sido ignorado. Machucou. E muita gente da indústria se disse surpreendida [pela decisão]”.

Veja alguns momentos históricos de Michael Jackson no Grammy:

Sentado em seu sofá, acompanhando a premiação pela TV, Jackson sentiu a alegria da vitória por Melhor Vocalista de R&B, mas cada minuto de exibição descia amargo. “Fiquei triste pela rejeição, mas, ao mesmo tempo, pensa: Da próxima vez… Da próxima vez. É difícil separar o indivíduo do artista nessas horas”. Obstinado e sem se esconder atrás de promessas vazias, Michael Jackson encontrou a motivação necessária para escrever seu nome na história para sempre. Qual seu próximo álbum? Thriller!

Vencedor de 7 Grammys, Thriller foi mais que um sucesso, ele representou uma profecia, ou uma promessa?, feita pelo próprio Jackson logo após a esnobada do Grammy em 79. “Comecei a trabalhar em Thriller querendo que fosse o maior Best-seller de todos os tempos”, diz. A meta profética foi cumprida com louvores e, mesmo sofrendo com atrasos de produção [maioria provocada pelo perfeccionismo do cantor] e feito ao mesmo tempo em que Michael trabalhava com Steven Spielberg no storybook de E.T. – O Extraterrestre, que ganhou o Grammy de Best Recording for Children, o álbum mudou o mundo da música. Pressionados pela gravadora, a Epic Records, Jackson e Jones (que produziu 3 de seus discos, Off the Wall, Thriller e Bad) precisaram refazer toda a mixagem e a edição em certo ponto. Jackson conta que a gravadora só entendeu quando ouviram. “Não podia apressar as coisas”, conta o Rei do Pop. Ele também assumiu ter se inspirado diretamente no filme Um Lobisomem Americano em Londres para pensar no conceito e, especialmente, no visual para o emblemático videoclipe que aterrorizou a vida de espectadores ao redor do mundo.

A festa do Grammy em 1984 foi totalmente diferente. Michael Jackson ganhou 7 Grammy [8 se contar E.T.], enquanto a premiação concorrente, o American Music Awards o premiou 8 vezes, consolidando seu nome, sua carreira e garantindo que sua música nunca mais fosse ignorada. O fantasma de 1979 havia sido exorcizado e agora era a figura zumbizada de MJ quem amedrontava concorrentes e inimigos.

Ao todo, Michael Jackson recebeu 13 prêmios Grammy, além de duas honras especiais, e a inesquecível homenagem após sua morte [veja o vídeo abaixo]. Recebeu pessoalmente a homenagem em diversas ocasiões, mas sempre se recusou a ser apresentador. Tudo isso por influência direta das experiências ruins, e problemáticas, na TV ainda nos tempos de Jackson 5. “Recusei diversos convites para apresentar o Grammy”, explica em sua biografia. “Sou um músico, não apresentador ou comediante. As pessoas ririam das minhas piadas fracas só por eu ser Michael Jackson e eu saberia disso, pois não sou engraçado”. Especialmente logo após a saída de Jermaine Jackson do grupo, eles se envolveram com um programa semanal – “tapa buraco estúpido”, como descrito por Michael – e as vendas foram duramente afetadas. “Todo mundo me dizia que só iria ajudar e, mesmo dando errado, os discos não seriam afetados. Burrada enorme. E todos eles estavam errados. Paramos de vender e ninguém mais queria ver nossa cara na TV. Não é possível aperfeiçoar nada na TV, tudo é rápido, os índices da Nielsen [o IBOPE norte-americano] controlavam nossas vidas. Era uma rua sem saída e sem futuro”.

Michael Jackson escreveu sua própria história, tentou inspirar o mundo com We Are the World, que escreveu ao lado de Lionel Richie, e construiu o título de Rei do Pop. Pensar em momentos marcantes, como essa decisão de “fazer o disco mais vendido do mundo” na hora de começar a pensar em Thriller diz muito sobre sua qualidade profissional, mas também mostra como exemplos podem nos inspirar. Controvérsias à parte, não conhecia esse trecho de sua história e fiquei muito emocionado ao saber que, em vez de ódio, ele nutriu uma revanche positiva e calou a boca de seus críticos de forma inconteste. Ainda mais em tempos de reclamões online e críticos de ocasião, saber que um álbum icônico surgiu dessa forma é brilhante. As dificuldades do mundo não diminuíram de 1979 para cá, mas nossa capacidade de superação e criação parece ter perdido terreno perante ao egocentrismo não-produtivo. São exemplos como esse que fazem a gente pensar. Nunca mais ouvirei uma música de Michael Jackson da mesma maneira. E você?

Quer Fazer parte da História do Grammy? Agora é sua Vez!
Participe da promoção Surpreenda, da MasterCard, e concorra 8 pares de ingressos, passagens aéreas e hospedagem em Los Angeles para acompanhar à 53.a Cerimônia do Grammy Awards, em 13 de fevereiro de 2011. Clique aqui para se cadastrar e saiba mais sobre os extras para leitores do SOS Hollywood clicando aqui!

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

Recomendado para você

5 Comments

  1. Já conhecia essa passagem da vida de Michael, e com certeza foi um momento crucial para a carreira dele. Realmente, Michael não escolheu a via mais fácil, de reclamar da injustiça do prêmio ou viver se lamentando. Colocou a mão na massa e com Thriller fez algo grandioso, impossível de ser ignorado pela crítica e pela indústria.

    Financeiramente falando, a gente pode dizer que o que Thriller fez pela indústria fonográfica é semelhante ao que Avatar fez pela indústria do cinema… ou seria pretensão demais afirmar isso?

  2. Eu já conhecia essa parte da história de MJ. Na verdade, eu sei quase tudo sobre ele! rsrsrs Sou fã do cara e sempre procurei estudar sua vida profissional por admirar e reconhecer o tamanho da importância dele a indústria fonográfica e para a cultura pop.
    Eu acho louvável o esforço de Michael em fazer um álbum que fosse devidamente reconhecido. O Grammy ignorou, na minha humilde opinião, o melhor álbum dele. Eu gosto de Thriller, adoro na verdade, mas ainda acho que, musicalmente, Off The Wall é maravilhoso e superior. Meu preferido, pelo menos… rsrs
    O perfeccionismo de MJ, tão criticado por alguns, era a maneira que ele encontrava p/ exercer seu dom artístico. Querendo ou não, o ser humano sempre esperar se superar. Não considero isso megalomania ou egocentrismo. Acredito ser mais uma tentativa de calar a boca de outras pessoas, de mostrar que a arte ou o trabalho são maiores e mais importantes do que o resto. Admiro demais MJ e acho que todos os prêmios que ele recebeu foram merecidos…. Ainda merecia mais, na verdade! rsrs

    Belo texto, Fábio 😉

  3. […] que gostaria de ouvir. “Eu queria ser um dos grandes!”, disse. Quando escrevi o artigo sobre Michael Jackson no Grammy, lembrei desse sentimento. Inicialmente, pode-se entender isso como ego ferido ou condição […]

  4. O Grammy não é um prêmio, é um insulto!

    1. interessante, por que você diz isso?

Comments are closed.