Há muito tempo o filho havia partido.
Seus caminhos o afastaram de sua família.
Dos ensinamentos dos pais e da companhia dos irmãos.
Da vizinhança dos amigos.
E do doce sorriso da avó.

Depois de muito viver, o filho retornou
E ao chegar à porta da casa da família encontrou o pai, sorridente, a recebê-lo.

– Que bom revê-lo, meu filho.

– Não esperava tanta alegria, já que o abandonei há tanto.

– Será que o tempo fez com que este velho feliz seja um considerado um tolo ao reconhecer seu próprio filho e alegrar-se por isso?

– Ao contrário. Esperava que fosse necessário me apresentar depois de tanto tempo.

– O tempo realmente o mudou, meu filho, mas ainda sei distinguir aquele que preparei dos demais que batem à minha porta.

– Bem, cá estou para te pedir desculpas por ter te abandonado daquele jeito e não ter escrito uma vez sequer. Mais uma vez a história do filho pródigo se repete.

– Pródigo? E desde quando uma parábola da qual tu não acreditas serve para exemplificar teu caso? Mesmo que acreditasses, o caso é outro e de pródigo não tens nada, meu filho.

– Como?

– Pouco a pouco fui descobrindo tuas façanhas, idéias, amigos, inimigos, vitórias e derrotas e o fazia quando meu coração pedia, mas a maioria das notícias chegava a mim por meio de amigos e pessoas impressionadas com o meu filho, mesmo sem saberem de nossa relação.

– Histórias do povo tendem a serem exageradas.

– Mas não essas, não senhor, pois a cada descrição que ouvia eu identificava ali o modo como meu primogênito se comportava e pensava. Em alguns casos até o desfecho eu já imaginava e lá estava sua assinatura, com grande estilo, devo acrescentar. Realmente, não era muito difícil.

– Não é possível, já que os anos me mudaram e também ao meu modo de agir.

– Tua base, porém, foi criada aqui neste lugar, com este ar e esta paisagem. Isso faz parte de ti, meu filho. Por isto voltastes.

– Não sei o que dizer.

– Não diga, entre e seja bem-vindo. Tua família o aguarda e o cheiro de bolo de chocolate está delicioso.

– Pai?

– Sim.

– Obrigado por ter feito isso por mim.

– Não agradeça. Eu não fiz muito, só te mostrei uma direção. Você mudou várias vezes e melhorou a cada mudança, acertando ou errando. Quem és hoje é fruto de teu próprio suor.

– Mas o senhor foi minha base e meu exemplo. Sem ti meus passos teriam sido em vão, assim como meu retorno.

– O bolo está esfriando, disse o pai com um sorriso no rosto ao abraçar seu filho.

Eles entraram e aquele foi um dia de muitas histórias e alegria.

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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5 Comments

  1. Palmas! Que bom que você se redimiu. Continue a sua busca e achará o seu tesouro.

  2. Como sempre, você descreve os sentimentos divinamente bem.

    Lindo e emocionante, parabéns.

    Já estou com saudades mas, você sabe que lhe desejo o melhor, sempre.

    Beijos

  3. Muito fraco; muito fraco, mesmo

  4. Este conto me faz lembrar da parábola do filho pródigo.

  5. Obrigado a quem comentou. É claro que esse curtinho é inspirado diretamente na parábola do Filho Pródigo. Entretanto, escrevi há coisa de 4 anos para o meu pai e, pela ocasião da minha visita rápida ao Brasil, resolvi republicar para ele. Coisa boba, mas afetiva.

    Recado especial para Rafael: Criticar pode, xingar e vir fazer propaganda alheia não. Tem muita coisa “séria” que escrevi tanto aqui quanto no meu site de poesias, mas nao lembro de ver seus comentários em nenhum deles. Entao, antes de perder seu tempo detonando, leia um pouco mais. Eu respeito a todos aqui, entao exigo o mesmo tipo de tratamento, ok??

    abs

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