Derek Mears

O filme podia acontecer no Velho Oeste com Jason matando robôs que viajam no tempo! Vou ser o Jason, não precisa de mais nada! (gargalhadas)

Hollywood deveria dar mais espaço para comediantes. Isso é um fato. Para fazer comédia boa (claro!), é necessário que o sujeito seja inteligente, saiba articular e entenda qual seu papel no mundo do entretenimento. Por que isso? Por causa de Sexta-Feira 13. Pirei? Não e explico. O evento de imprensa para o filme foi bem legal, rendeu boas entrevistas e uma delas surpreendeu (Derek Mears, o cara que vestiu a roupa de Jason e cuja entrevista completa você confere abaixo), mas – e sempre tem um ‘mas’ – uma das mesas-redondas foi um fiasco.

Quem estava nela? As moças bonitas que sempre atraem gente para esse tipo de filme. Foi um festival de respostas prontas e momentos constrangedores sem ter o que perguntar. Lembrou muito um momento constrangedor na Comic-Con, quando a Dark Castle anunciou um novo filme de terror e levou o elenco ao palco. Entre eles, estava Sophie Monk – atraente ao extremo – e Tad Hilgenbrinck, de Lost Boys – A Tribo. Eles não tinham nada a dizer e os fãs nada o que perguntar. Entraram, sentaram, levantaram e foram embora. Sempre me pergunto qual o objetivo disso. Vai entender? Isso sem mencionar a eterna Jessica Anta Alba.

Entretanto, era Derek Mears – o responsável por Jason Vorhees – que deveria ser a pior das entrevistas, já que ele é apenas o sujeito que veste a máscara. Para surpresa geral, Mears ganhou a mesa com seu bom-humor, boas respostas e um senso histórico fascinante em termos da mitologia de Sexta-Feira 13. Um dos principais motivos é o fato de o cara ser comediante stand up e de improvisação. Esse tipo de profissional é o mais gabaritado atualmente para entreter e, especialmente quando se fala em um filme cheio de mortes bizarras e surrealismo latente, rir é a melhor solução. Sexta-Feira 13 foi tão histórico que até mesmo o grandalhão que vestiu a máscara roubou a cena. E da melhor maneira possível.

Confira a entrevista exclusiva!

Você foi o único ator que usava uma máscara num filme em que todo mundo precisa se esforçar para não rir do surrealismo da situação. Você se considera sortudo por poder rir o quanto queria e ninguém perceberia?
(gargalhadas) Pode apostar, mas tratei tudo com respeito, sabe. Sempre fui muito fã da série e Jason é o ícone máximo do horror para mim, então sempre me senti muito honrado com esse trabalho. Mesmo assim, entre uma tomada e outra, eu perguntava para a equipe: ‘vocês conseguem me ver rindo por baixo da máscara? Não? Ótimo’ (risos). Acho importante me manter concentrado, mas Jason exige um nível de agressividade tão grande que relaxar ajuda bastante.

Guardou a máscara como recordação?
(Balançando a cabeça afirmativamente) Não tenho a menor idéia do que você está falando. Não posso falar sobre isso (cabeça ainda balançando afirmativamente e risos).

Tudo bem que Jason precisa apenas ser grande e assustador, mas o filme precisava de algo além de um simples dublê de corpo para correr atrás do pessoal, não? No fim das contas, você precisou ser mais dublê ou ator?
O que aconteceu em Sexta-Feira 13 tem muito a ver com minha história pessoal. Cresci jogando Dungeons & Dragons e minha base profissional foi desenvolvida na comédia de improvisação, então tenho um lado “ator” embutido no meu jeito de ser, mas isso não me impediu de conseguir trabalho e fazer carreira como dublê. [Mears é fixo num clube chamado Comedy Sportz em Los Angeles, onde faz stand up comedy]. Jason é um sujeito muito físico, mas tem seus momentos. Não muitos, mas precisa se expressar em alguns pontos do filme. Acredito que tudo tenha feito sentido dentro do que a série pede.

Inclusive o fato de você se mover mais que os Jasons anteriores?
Isso estava previsto no roteiro e tenho certeza de que foi fundamental para o reinício dessa franquia. A idéia era reaproximar Jason da realidade, afinal de contas, ele é um cara ‘normal’ e não um super-zumbi que anda em câmera lenta. Mesmo sendo daquele jeito, Jason é emotivo e tudo que ele faz é resposta a essas emoções. Ele é meio como Bruce Willis em Duro de Matar. Você pode bater o quanto quiser, mas ele está tão certo do que está fazendo que não vai desistir e sempre segue em frente. Fiquei feliz com esse formato, pois acho que, pela primeira vez, ele é um personagem completo e não apenas uma imagem a ser temida e que só aparece na hora de matar alguém. O fato de vermos o que ele faz entre as mortes e alguns traços pessoais ajuda bastante nisso.

Você ficou surpreso com essa mudança, especialmente por ser fã da série?
Fiquei sim, mas preciso dizer uma coisa importante. Quando me ligaram oferecendo o papel, justamente por ser um fã, eu não dava a mínima para o roteiro – o filme podia acontecer no Velho Oeste e Jason matando robôs que viajam no tempo – eu já estava empolgadão pelo fato de participar (risos). Vou ser o Jason, não precisa de mais nada! (gargalhadas). Quando li o roteiro fiquei bastante empolgado em perceber que havia muita coisa nova, e positiva, ali. De cara pensei que esse poderia ser um dos melhores Sexta-Feira 13 da história, além de ser um dos mais assustadores.

Essa empolgação se traduziu em momentos engraçados, ou assustadores, entre as filmagens?
Sem dúvida.

Você assustou o pessoal?
Fiz alguns se borrarem! (gargalhadas)

Então conta…
Nossa, foram tantas, mas vou contar duas. Filmamos num acampamento de verdade, mas eles não fecharam durante as filmagens, então, num certo dia, ou noite, apareceram 200 escoteiros para dormir no acampamento.

Putz…
É, dá para imaginar onde isso vai parar. Então, os produtores chegaram e disseram: ‘acho que você deveria ir até lá e assustar a molecada. O pessoal de figurino está te esperando para colocar a roupa e a máscara’. Eu pensei que seria fantástico, mas aí eles desistiram, pois os pais de alguns dos escoteiros estavam lá também e ficaram com medo de atirarem na gente. Mas aí tive a idéia mais genial de todas: ‘seguinte, a gente não assusta os 200. Vamos escolher apenas um, que tenha ficado um pouco longe do grupo, e apavoramos o garoto. Esse moleque vai voltar, todo borrado, e contar para os amigos que viu Jason. Claro que todo mundo vai achar que ele está maluco e ele será perseguido por essa idéia pelo resto da vida’. (gargalhadas).

E vocês fizeram?
(risos) Não, seria horrível, né? Então desistimos. Só a idéia já assustava demais.

Conta uma que realmente aconteceu. Com alguém do elenco, talvez?
Tem uma ótima envolvendo Jonathan Sadowski [nota do editor: até parece brincadeira de mal gosto, né?], que interpreta o nerd do começo o filme [nota do editor2: ele vestia uma camiseta de Star Wars]. Estávamos filmando numa parte bem escura de uma floresta em Austin, no Texas, então a estrutura de apoio ficava meio longe. Jonathan foi ao banheiro e precisava andar por uma trilha naturalmente assustadora, mas todo mundo já tinha passado por ali, então não tinha galho. Só que dessa vez, alguém falou “precisamos assustar esse cara”. E na hora eu, todo paramentado, me prontifiquei (risos). O pessoal ficou preocupado com a roupa, pois não sabiam o que eu ia fazer e tal, mas fui mesmo assim. Fiquei escondido num arbusto por uns 10 minutos. Quando ele veio, pulei na frente dele e dei um grito. Ele ficou parado, mas movendo as pernas rapidamente, como se quisesse correr, mas não se movia. Fiquei frustrado e disse a ele que queria assustar, mas pelo jeito não tinha funcionado. Ele disse que tinha funcionado, e muito, só que ele ficou daquele jeito, pois o corpo não sabia se corria ou se tentava me dar um soco. O sujeito entrou em parafuso na minha frente. Foi hilário.

Esse cara foi a vítima:
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Está pronto para se transformar num ícone do horror, afinal, agora você entra para uma galeria que reúne gente como Robert Englund e David Prowse?
Realmente não sei. A coisa toda é meio surreal, para ser honesto. Tento não me preocupar muito com o efeito disso tudo em mim, pois meu papel aqui é não deixar a peteca cair. Quando você faz um bom trabalho, pode ser que as pessoas não lembrem do seu nome e não vejo problema nisso, agora, quando tudo sai errado, você automaticamente se transforma no “cara que afundou o personagem”. Acho que disso estou livre (risos). O importante é deixar o personagem em bom estado para o próximo ator, caso eu não participe de um próximo filme, encontre tudo em ordem e possa dar sua contribuição também. Jason é praticamente uma obra coletiva nesse aspecto.

Qual a morte favorita? Afinal, são tantas as opções…
(risos) Quando li o roteiro, tinha ficado empolgado com a cena no lago, mas depois de ver o filme, adorei a seqüência em que Aaron (Yoo) e eu nos encontramos na casa de ferramentas. Ficou muito bom.

E o momento em que você colocou a máscara pela primeira vez?
Quando me encontrei com o criador do novo visual, ele abriu uma caixa com diversas máscaras para ver qual delas se encaixaria melhor no meu rosto [tudo foi feito sob medida, mas mesmo assim, alguns modelos não estavam tão confortáveis]. Pode parecer exagero, mas quando peguei a máscara, me imaginei como Rei Arthur tirando Excalibur da pedra. Pensei: sério? Vou mesmo vestir essa roupa?

Momento Darth Vader, hein?
Totalmente. É um daqueles momentos inesquecíveis, assim como assistir Guerra nas Estrelas pela primeira vez. Quando você ouve a música e vê o Destróier aparecer na tela. Chama a atenção de todo mundo. Todos os caras da oficina pararam o que estavam fazendo [moldando partes de corpo e outras coisas grotescas], ficaram em silêncio e olhavam na minha direção. Olhei para cada um deles e, de repente, todos começaram a bater palmas. Foi insano. Demorou para cair a ficha.

Falando em termos visuais, você sugeriu algo para o personagem ou tudo estava prontinho?
Dei a idéia para incluírem uma pequena corcunda no ombro para dar a idéia de deformidade e também “forcei” a equipe a encontrar algum material mais confortável para eu vestir sob a fantasia. Austin é um lugar muito quente e tudo ali ficava irritado, então a versão original me incomodava muito.

Quanto tempo vocês gastavam diariamente para montar o personagem?
As primeiras vezes foram mais demoradas e levavam cerca de 3 horas para colocar tudo – já incluindo a máscara -, porém, quando todo mundo pegou o jeito, reduzimos esse tempo para 1h30, o que era fantástico. Agora, o que não consigo entender é como Danielle Panabaker, que não utilizava absolutamente nenhuma peça artificial, máscara ou maquiagem pesada levava 2 horas para ficar pronta (gargalhadas). Vai entender, mas é um pouco esquisito (risos).

A máscara tirou a visibilidade?
Bastante, pois ela acaba matando a visão periférica e quando todo mundo está concentrado na cena, não dá para se preocupar com elementos que façam parte do set. Perdi a conta das vezes em que tropecei ou bati várias partes do corpo no cenário. Agora, ainda bem que fizeram a máscara com o mesmo material usado nas máscaras de hóquei originais, pois eu levei tanta porrada, paulada e outros ataques – previstos, ou não – que a máscara me salvou um bocado de vezes.

A impressão que temos ao conversar com o elenco é que vocês se deram muito bem, especialmente para manter o espírito de filme de “acampamento”. Foi assim mesmo?
Cara, foi muito divertido. Acho que nunca me dei tão bem com um elenco como esse. Embora todos fossem desconhecidos, rolou algum tipo de ligação e espero que isso tenha se transferido para o filme.

Ah é, vimos isso sim. Especialmente quando você perseguia todo mundo com o facão.
(risos) A grande sacada disso foi que ganhamos certas liberdades com o elenco, então em alguns momentos parecia que estávamos brincando de esconde-esconde. De uma forma mais macabra, mas ainda assim, brincando (risos).

E o que esperar da sua carreira nesse mundo pós-Jason?
Acho que vou voltar a jogar minha vida fora no Xbox (risos) e ler quadrinhos. Gosto muito de Batman, mas andei lendo Hackslash e estão adaptação para o cinema. E estou muuito interessado nessa adaptação. Parece que o elenco está sendo definido [apontando para si mesmo] e a idéia parece ótima [ainda apontando para si mesmo].

Devo confessar que é muito difícil ter medo de Jason depois de te conhecer. Além de engraçado e simpático, você não é nada assustador!
(gargalhadas) Isso é bom para a divulgação? Estou até vendo a manchete: Jason é Frutinha! (gargalhadas) O importante é poder fazer um papel desse e ainda ser eu mesmo, sabe. Não acho nada legal, ou natural, sair por aí agora dando uma de machão e intimidando os outros só pelo fato de ter interpretado Jason. Tem hora certa para tudo e um trabalho não lhe dá liberdade para se comportar feito um idiota. Algumas pessoas pensam assim, mas é a vida.

Confiram uma entrevista em vídeo com Derek, para conhecer o sujeito “visualmente”. As perguntas da moça são supermegabogaoriginais! =D

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=iDHVNDjv4Dk&hl=pt-br&fs=1]

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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3 Comments

  1. Figuraça… o cara é um monstrengo e super inteligente e engraçado.

  2. Cara, não sei onde, mas eu acho que já v i esse cara muito antes do Jason, mesmo.
    E muito engraçada a entrevista heim, gostei do jeito que ele respondeu a ultima pergunta, tem alguns atores que se botam num pedestal por terem feito certos papeis de sucesso e seguem a linha de serem estelas e ponto final, e ele está certo, é bom poder ser idiota no trabalho para ser normal no resto do tempo.

  3. A criatividade da repórter me impressionou… NOT!

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