[Crítica] O Cavaleiro das Trevas

Introduce a little anarchy… Upset the established order… Well, then everyone loses their minds!

LOS ANGELES – Um dia ou um ano. Tanto faz o tempo disponível para escrever essa análise de Batman – O Cavaleiro das Trevas. A tarefa não se torna mais fácil ou menos complexa, não por ser um filme de difícil compreensão ou repleto de mensagens subliminares, muito pelo contrário, justamente por se tratar de um longa-metragem extremamente direto e agressivo. Que deixa o público sem saber como agir depois que o filme acaba. E isso assusta, transtorna e marca o espectador. O personagem pode ter nascido nos quadrinhos, mas pouco resta do herói arquétipo e da estrutura do formato impresso. Tim Burton que me perdoe, continuo adorando seus filmes, mas a história de Batman nos cinemas começa agora!

Mas…e Batman Begins? Christopher Nolan e Christian Bale definiram os novos parâmetros no primeiro filme, sem dúvida, mas ainda restavam traços das HQs. Vilões que precisam ser derrotados em prol do bem maior, um herói definia seus caminhos, tudo ainda era preto e branco. O que não tira os méritos do filme, mas deixa claro que foi uma preparação para a realização de O Cavaleiro das Trevas. É fato. E um filme que precise de um preâmbulo grandioso como Batman Begins não pode ser um produto qualquer. E não é.

Desde Sangue Negro não me deparava com uma trilha sonora tão presente e ameaçadora. Praticamente um personagem independente que apóia o elenco e tem seus momentos de grandeza, mas, como todo grande “astro”, sabe quando se retrair e desaparecer completamente. James Newton Howard e Hans Zimmer realizaram algo memorável com a trilha.

Se as composições ameaçam, o que dizer sobre o vilão mais antecipado do ano? O Coringa chamou a atenção desde a escalação de Heath Ledger e dividiu a opinião pública (por pouco tempo, diga-se de passagem) quando suas primeiras imagens foram divulgadas. O estúdio já começava a notar que tinha algo único nas mãos, mas, de repente, Ledger morreu em janeiro, e vários “especialistas” culparam a intensidade do Coringa no incidente. O mito estava criado.

Sem dúvida, esse vai ser o principal chamariz para a maioria das críticas, pois a morte de Heath Ledger ofusca. Entretanto é inegável o fato de que, vivo ou morto, ele entraria para a história com a interpretação desse Coringa. Ele foi capaz de realizar em apenas um filme o que 90% dos atores de Hollywood gastam a vida inteira tentando: originalidade e transformação total. O ator desapareceu e, em seu lugar, surgiu uma figura que inspira medo e pavor, não apenas por suas próprias ações, mas por conta de uma sociedade que o criou e o tolera.

Diferente de todos os demais filmes sobre o Batman, O Cavaleiro das Trevas não foca no personagem de Bob Kane. Toda a campanha de marketing e o início do filme levam a crer que o elemento principal dessa trama é o Coringa, um assassino maníaco que desconhece limites para suas maquinações. No entanto há Harvey Dent, o novo promotor público de Gotham City. Num trabalho primoroso de Aaron Eckhart (Obrigado por Fumar!), ele destoa como verdadeira esperança para uma cidade aterrorizada pelo crime e, mesmo durante o rompante de violência promovido pelo Coringa, se mantém firme e desafiador.

É nele que os olhos do espectador devem ficar atentos. Um bastião mais importante que o próprio Batman e ideal o suficiente para inspirar gerações. Algo próximo do verdadeiro modelo do herói, sem capa ou superpoderes, apenas um homem comum aceitando a responsabilidade de agir no momento de necessidade. A campanha de marketing sabiamente focou no Coringa para despistar quem resolveu seguir os passos da “incansável caçada do Tenente Gordon ao criminoso” e utilizou Dent como elemento secundário. Ele, ou melhor, a cidade que representa é a verdadeira chave de O Cavaleiro das Trevas.

Os elementos dos quadrinhos estão lá. Batman, Coringa, Gordon, batsinal e por aí vai. Porém Christopher Nolan fez algo que seus competidores da Marvel não ousaram (Homem de Ferro construiu um herói para a nova geração, cheio de tecnologia, bom-humor e adrenalina; Hulk esmagou, falou, esmagou mais um pouco e ponto). Ele criou um tratado social com seu novo filme, fazendo uma incisão sem anestesia num paciente apático que se vê acuado pela violência retratada no longa-metragem e pouco faz para combatê-la. Ou seja, o filme fala sobre nós. Pessoas. Até mesmo Gordon (em mais um grande trabalho de Gary Oldman) recebe seu quinhão da mazela ao se ver cercado por pessoas corrompidas e paga caro por isso. Não há escapatória se não esboçarmos uma reação.

O Coringa inspira medo e o trabalho de Ledger assusta. É algo visceral e cruel. Diferente da versão memorável de Jack Nicholson, que exibia certo charme e sutileza. Ledger é cru, mais próximo da realidade. Mas nada disso supera suas conquistas perante a população, que comprova sua tese: mesmo os mais nobres podem ser corrompidos. E vai além. Ele corrompe, manobra e entrega o “novo tipo de criminoso” que prometeu nos trailers. O que é mais sintomático: o psicopata assassino ou uma massa gigantesca de pessoas que teme um único homem?

Essa é a tônica de O Cavaleiro das Trevas. Um mergulho em direção aos medos de cada espectador, que é obrigado a imaginar como reagiria às situações extremas provocadas pelo Coringa. Essencialmente, é a jornada do próprio Batman, desde a traumática morte dos pais até a seqüência de relacionamentos infrutíferos. Agora, o Homem-Morcego coloca sua moral e seus conceitos em xeque por conta de seu novo inimigo. Como enfrentar alguém sem limites e manter sua própria sanidade? Christopher Nolan disse ter ficado receoso ao conceber o filme. Agora é possível entender. Fazer algo desse tipo requer muita coragem e causa calafrios em qualquer um.

E o pior de tudo: como tentar dormir em paz depois de ser confrontado com tamanha perturbação e veracidade? Esse é o legado de Heath Ledger, o legado do Coringa, o legado do medo e da genialidade.

Leia crítica do Judão aqui.

(Por Fábio M. Barreto)

36 comentários em “[Crítica] O Cavaleiro das Trevas”

  1. Eu realmente não consigo acreditar, meu personagem de coração, finalmente tudo aquilo que eu idealizei, tudo aquilo que eu imaginava em minha mente se concretizou,BATMAN do jeito que ele tem que ser,serio e bem escrito,realmente não tenho mais duvidas, as criticas do mundo todo não deixam mentir:é o derradeiro filme do batman.Chega de mamilos,chega de bat-baixinho,o homem-morcego prova, mais uma vez,que é o grande personagem dos quadrinhos,que mesmo depois de tantos atropelos fica a lição:A OBRA-PRIMA NUNCA MORRE.A VERDADEIRA JOIA NUNCA PERDE VALOR,E DEPOIS DESSE FILME, COM UM QUILATE MAIOR

  2. Uma crítica excepcional para um filme que (espero) entrará para a história, se é que já não entrou.

    Realmente, inspiração tomou conta de você pra escreveer essa crítica. Parabéns mesmo.

  3. A crítica está demais, quando percebi já tinha terminado de ler!!

    Uma pena o Ledger não estar aqui para ver isso, e até mesmo subir no palco e pegar seu tão merecido Oscar…

    Abraços..

  4. FABIO, valeu pela excelente crítica, sem revelar spoilers, mas atiçando, ainda mais, a curiosidade do público!
    Aguardo ansioso pelo final de semana para, finalmente, poder conferir a segunda aventura do “morcegão” nas telonas.
    Saudações,

  5. Eu ia assistir só na segunda…
    Mas PRA QUE eu fui ler essa critica?
    EU QUERO ASSISTIR HOJE !
    AGORA !
    PORQUE AINDA NÃO TA PASSANDO?!?!?!

    Obrigado Barretão (oO) pela critica =)
    É bom quando você lê uma critica de alguem que entende realmente do assunto: CINEMA !

    Suas criticas e a do Borbs ja me fizeram assistir alguns filmes historicos, e também a escapar de verdadeiras bombas…
    =D

  6. Isso foi quase um poema!
    Esse filme foi mesmo do coringa, não sobrou nem pro batman.
    Acho que esse filme em maior parte o personagen de Aaron é mais Harvey com o duas caras, acho que o duas caras só aparecer como o duas caras no final do filme e num proximo filme como um vilão visseral como foi o coringa pra esse filme

  7. Cara a partir dessa crítica me tornei leitor regular do teu blog… excelente mesmo cara… espero que o filme esteja realmente à altura…

    Valeu…

  8. Maravilhosa crítica. O filme ja esta a algum tempo programado para assistir hj, lgo após o hr de expediente. Coisa de loco isso;;.pelo q todos – em tudo que li – comentaram, deu pra entende q o coringa foi quem matou Heathcliff Andrew Ledger.

  9. Assino embaixo!
    Filme perfeito,e o Heath Ledger deu medo e ao mesmo tempo fascinou!
    Batman Begins e Batman – O Cavaleiro das Trevas lavou a honra cinematografica do Batman,é a obra definitiva,nem tem mais o que fazer pra se tornar mais memoravel…

  10. Helyakym ``Heath Ledger´´

    Siceramente esse filme “FOI O MELHOR QUE JÁ VI´´! E não to comparando com os outros filmes do Batman. mas com todos os filmes que ja assisti.
    Dá uma nota não significa nada, pela grandeza do filme e pela excelente atuações dos atores em especial Heath Ledger.Que Deus o tenha.

  11. FODA!!! FODA!!! FODA!!!
    Heath Legder calou minha boca com gosto, Aaron Eckhart humilha (como vem fazendo desde obrigado por fumar) e o morgan freeman quando aparece é um show a parte.

    tipo acabei de ver o filme então vou me acalmar pra comentar ele melhor, é simplismente fatastico…

  12. Como se diz aqui no Judão: o mundo do cinema se divide em antes e depois do “The Dark Knight”

    Adorei o texto!

    PS: Sob o efeito intoxicante do Joker até agora.

  13. Discordo desta critica.

    Sem duvida que o melhor curinga feito até hoje foi o do ledger. Mais o filme é do batman, a historia é culpa do batman, tem enrredo no batman e volta para o batman no final.

    O bruce desiste de ser batman para acreditar no hervey e por ai vai, tudo é enfocado no batman que é o protagonista com mais uma grande atuação do cristian bale com seu falso playboy e um batman animal.

    O curinga é consequencia do batman de begins, aliais no final de begins o curinga ja é anunciado por uma carta de baralho.

    Infelizmente a midia esta usando a morte de ledger para vender o filme e ainda vinculado a ridicula ideia de que o personagem o matou, pois não o matou.

    E o curinga em si é coadjuvante no filme, quem não viu que veja, é um grande coadjuvante, na primeira hora de filme ele aparece pouco, depois aparece mais e tem bons textos mais tudo para que o batman no final vire o cavaleiro das trevas.

    Outro ponto que eu discordo deste texto é dizer que The dark knight não tem nada haver com hq…Eu leio hqs do batman desde que aprendi a ler, antes disto meu avô lia pra mim e nunca vi um filme tão fiel as hqs como este, só batman begins mesmo, agora este supera.
    Em the dark knight tem: frases , situações, tramas , personagens, nomes , passagens varias coisas de varias hqs desde 1940 até hoje.

    O final do confronto batman e curinga inclusive é o mesmo final da hq batman#1 onde o curinga apareceu pela 1ª vez, genial.

    Agora o filme em si é quase uma adaptação cinematografica da HQ o longo dia das bruxas de 1998.La um banco esta sendo usado para lavar dinheiro, alguem rouba o banco, queima o dinheiro, bruce wayne lança a campanha pra hervey dent, todos apostam em hervey, ele é atacado pela mafia e vira o duas-caras, a diferença é que em o longo dias das bruxas mostra varias aberrações do batman em The dark knight eles usam o curinga como o que inicia a série.

    Agora um site como o judão não pode ter um review que diz que the dark knight(o cavaleiro das trevas) foge das hqs…ao contrario ele é altamente fiel e adapta elas ao mundo real , este é a sua grande tirada.

    OBS: Tem gente opninando aqui como se tivesse visto o filme mais não viu da pra ver pelos comentarios, não ha como o hervey dent(duas-caras) voltar num terceiro filme quem viu sabe disto…

    Fiquem com Deus

  14. Pingback: [café]com[pão] » por que tão sério?

  15. MUITO BOA a crítica. To esperando ansioso pra ver. 🙂
    E só pra constar, Hans Zimmer foi quem fez a, também maravilhosa, trilha sonora de Piratas do Caribe!

  16. Texto quase perfeito, so a parte que fala que nao tem nada de HQ que esta errada…como disse o comp e o proprio diretor do filme ele se baseou muito em HQ principalmente o longo dia das bruxas

  17. olha… eu sou leitor e colecionador de quadrinhos..

    mas. alguem ae explica .. o fato de falarem que tem a ver com o longo dia das bruxas?

    se for SOMENTE pelo fato da mafia do maroni estar no filme… nao qure dizer nada…

    o filme tem seus momentos que tem a ver com o quadrinho..
    afinal.. o dialogo no fim, é totalmente piada mortal…


    mas o fime todo… no contexto…
    é totalmente independente…
    é um MEGA filme POLICIAL (e nao filme do bátema, que alias é quase um coadjuvante de luxo no filme, isso sim)

  18. Se é baseado em HQ, se o Heath se matou por causa do Coringa, se o marketing está usando a morte do ator para divulgar…querem saber? Nada disso me interessa.

    O que valeu mesmo é que o filme é sensacional! O Bale me surpreendeu ainda mais do que em Batman Begins, o Ledger estava espetacular, independente de ser coadjuvante, de roubar essa ou aquela cena. O Freeman é show até mesmo sem abrir a boca. O Eckhart mostra que é um excelente ator e o Gary Oldman faz valer o ingresso de qualquer filme que ele participe.

    Batman não é o Bale, o Ledger ou qualquer outro ator que esteja em cena. Batman é todos os elementos misturados. É a cidade, é a emoção, é cada cena sozinha e, todas as cenas juntas. É uma palavra aqui, um gesto ali, e aquela trilha sonora de arrepiar os cabelos da nuca colocada nos momentos certos, como o Fábio assinalou.

    Quem não gostou, tem o direito de não gostar, fiquem à vontade. Tem filme para todos os gostos. Eu amei, de verdade. Sempre adorei o Ledger como ator. Odiei O Segredo De Brokeback Mountain apesar da atuação dele estar perfeita, porque não é o estilo de filme que eu aprecio. Sorte de quem gostou.

    Para mim, diversão é Batman (Tay, não me bate ^_^) e o filme é exatamente o que eu queria assistir. Sorte minha ;P

  19. Pingback: Rodrigo Ghedin » O Cavaleiro das Trevas

  20. Gostei da c´ritica mas dicordo totalemtne em um ponto: como assim “pouco resta (…) da estrutura do formato impresso”???? Pela primeira vez na história fizeram um filme do Batman complemente parecido e fiel ao formato impresso. Vc já as HQs do Batman como A Piada Mortal e Asilo Arkhan dentre outras?????

  21. Excelente crítica, porém penso ser este o filme mais fiel as HQs do Batmam. Quem conhece sabe muito bem. Quanto ao filme em si eu…fiquei passado, é sensacional,direto, obscuro, verdadeiro, é um soco direto no estômago. Em se tratando de hollywood, tem que ter culhão para fazer um filme desse nível e com essa profundidade, e Christopher Nolan teve. Uma mensagem para todos aqueles que não gostaram do filme: “Vamos colocar um sorriso nesse rosto”!!!!

  22. Pingback: Batman - Cavaleiro das Trevas IMAX no Brasil? | SOS Hollywood

  23. Pingback: [TRON] Saiba como foi a Primeira Exibição Mundial! | SOS Hollywood - Entretenimento com Relevância

Comentários encerrados.

Sair da versão mobile