É, aqui o nome é Olympic Summer Games ou, simplesmente, Summer Games. Afinal, eles tem os Jogos de Inverno, então faz sentido ter os Jogos de Verão. Isso quando não resolvem chamar de Olímpia. Olimpíada é tão mais fácil!

Tenho acompanhado os Jogos Olímpicos pela TV, com cobertura ao vivo da NBC. Os caras simplesmente passam tudo que conseguem encaixar na grade. No total, são quatro canais envolvidos no evento é uma questão de escolher o esporte que você quer assistir. Claro que todo o foco é no “Team USA” seja no par ou impar ou na ginástica masculina, que entrou sabendo que apanharia.
Pela primeira vez assisti a uma corrida de caiaque e a disputa de tiro com arco. Até hoje eu só havia competido, mas nunca assistido a algo dessa magnitude. Deu até vergonha da minha média de pontos contra os coreanos. Aliás, coreano nasceu pra arco e flecha. Eles são animalescos! Bem, foi divertido e ninguém viu a cor da “flecha”.

A cobertura tenta ser democrática – agora, por exemplo, na ausência de algo melhor, estão exibindo Boxe Peso Mosca, entre Thailandia e Guatelama!!! – mas quando tem americano na parada, vira uma festa. Michael Phelps, por exemplo, está em comerciais de TODOS os canais por conta de faltar uma medalha para ser o maior medalhista de todos os tempos. Herói nacional é pouco para o sujeito.
Mas fiquei mesmo impressionado pela cobertura de ontem, na final da ginástica masculina. Os comentaristas cantaram a bola no início: a China vai levar e se os americanos levarem qualquer medalha vai ser lucro. O “Team USA” entrou sem moral e precisava fazer mágica. Bem, pela primeira vez, eu vi os comentaristas parecerem chineses. Os caras deliravam com o show que a China dava e colocavam a briga contra o Japão como o grande embate dos Jogos.

De repente, os americanos começaram a surpreender. Foi impressionante e, surpreendentemente, chegaram a ficar em segundo lugar por um bom tempo. E começaram a virar heróis por conta da narração, que enfatiza as qualidades do time que começavam a aparecer. Foi aí que caiu uma ficha. Todas as vezes que acompanhei esse tipo de transmissão no Brasil, precisei aturar aquelas ginastas aposentadas que comentam passar mais tempo elocubrando sobre as “dificuldades” que os atletas brasileiros enfrentam e como isso os prejudicam.

Aqui foi o contrário, o fato de ser um novo time só foi mencionado umas duas vezes. Todo o resto do tempo foi utilizado para analisar e elogiar o que os caras realizavam, mesmo quando erravam, havia algo de positivo no comentário. Não acho que tenhamos que ser ufanistas ou deixar de ver problemas, mas parece que a cobertura brasileira só vê o defeito, como se ficasse procurando uma desculpa para a eventual falha.

Nesse caso, o time de ginástica entrou como zebra – assumidamente –, mas ninguém ficou arrumando desculpa, sabe. Achei isso curioso, pois, a cada erro, por exemplo, o foco passava para o próximo atleta que precisaria arrebentar. E os caras se superaram, claro que não faziam idéia do que acontecia na TV, mas pareceu uma reação natural aos escorregões e que se encaixava perfeitamente no cenário de “sonho” que os narradores construíam.

No fim das contas, os moleques socaram os alemães, deram uma canseira nos japoneses e levaram a medalha de Bronze. Tudo foi festejado como se eles tivessem acabado de derrotar Hitler sozinhos. O que me leva a outro pronto. Uma nação que sempre briga pela ponta na corrida pelas medalhas dá sim importância ao Bronze. Embora ninguém faça anúncios elogiando o time como no caso do Phelps, o entusiasmo é o mesmo. Especialmente por eles terem vacilado e perdido o segundo lugar, o que teria sido uma conquista “impossível”, bem ao estilo americano. Aliás, só metade do time era “americana”. O cara que errou feio é filho de chineses e o sujeito que deu um show no cavalo é filho de um ex-campeão de ginástica da Rússia! Isso que eu chamo de globalização!

Enfim, um jeito diferente de ver as coisas. Empolgação total, em qualquer situação. Outro exemplo foi o narrador do Polo Aquático, que quase enfartou quando os Estados Unidos bateram a Itália hoje cedo. O sujeito ficou mais alucinado que o Galvão na final de 94!

Para completar, pelo menos umas cinco redes de restaurantes tipo Burger King e o meu supermercado tem combos e promoções para dar dinheiro para o “Team USA”. É realmente um esforço nacional. E, detalhe, embora os atletas sejam valorizados, independente do esporte, é o “Team USA que está vencendo… precisa de tantos pontos… ou ganhou o Ouro”. É a força modelo esportivo que foca no esforço coletivo e no endeusamento da nação.

Que cousa! A gente bem que podia ter um pouquinho disso, pelo jeito funciona!

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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7 Comments

  1. Belíssimo post!
    Estou acompanhando as olimpíadas pela TV aberta brasileira, mas uso o SAP (God bless the SAP!). A narração brasileiera parece que está melhorando sim, na Band, por exemplo, mas ainda prefiro escutar somente a transmissão oficial.

    E a final por equipe masculina na ginástica foi sensacional. Eu estava querendo dormir, mas esperei até o último segundo. Estava emocionante! o/

    No mais, continue fazendo matérias sobre as olimpíadas como essa. Ficou sensacional. =D

    Abraços!

  2. Acho olimpiada um saco e sem mais.

    quanto isso das narrações dos USA e BR, é bem tipico, enquanto aqui a gente reclama de estar pagando 60 prestações do carro, em qual quer outro lugar do mundo o povo se orgulha de estar comprando o proprio carro, é coisa bem do Brasil mesmo.

    Por isso que eu digo que eu fundarei meu proprio pais em que os terremotos serão opcionais e com nivelador de intenssidade! *-*~

  3. Mais uma das injustiças que ocorrem no Brasil. Poucos são os atletas brasileiros que, ao vencerem, não falam “caminhava tantos quilômetros descalço”. Não deixa de ser verdade! E o Brasil tem tanta gente assim que não vira atleta…

  4. Muito bom o post. É sempre interessante o contato com outra cultura. Ainda mais sobre esportes, que estamos tão acostumados com a narração local, saber como funciona por aí.
    Parabéns.

  5. Barretão:

    E, por aqui, só da NET ( REDE GLOBO, claro)nos Jogos Olímpicos. Mas está duro de aturar o tal Galvão “Gagá” Bueno. Cada dia, o cara está ficando mais “lelé da cuca”. Já não fala coisa com coisa e se faz parecer o “dono” das equipes brasileiras e de seus respectivos técnicos. E o que é pior: seus comentaristas abonam suas bobagens metafóricas e suas abstrações bizarras. Alguém na Globo devia intervir, pois o sujeito pensa que o povo brasileiro é burro.
    Ele já está insuportável na Fórmula 1, no futebol e, agora, aparece como o “papa” da Olimpíada. É, Barretão, sou um dos que aplicam a terminologia da Grécia antiga para denominar esse tal de Summer Games dos americanos. E, certamente, com correção! Espero que surja um substituto para esse “mala” da TV brasileira. E fui….

  6. O FABIO está muito melhor do que nós, no que concerne a locutores esportivos, porque é complicado ter que aturar o GALVÃO BUENO!

    “não fala coisa com coisa e se faz parecer o “dono” das equipes brasileiras e de seus respectivos técnicos. E o que é pior: seus comentaristas abonam suas bobagens metafóricas e suas abstrações bizarras. Alguém na Globo devia intervir, pois o sujeito pensa que o povo brasileiro é burro.”(2)

    Sei que muitos discordarão, mas acredito que o WALTER está certíssimo…

    Saudações,

  7. Barretão:

    Eta, Walter porreta! Falau e disse. Exatamente como quase todos pensam aqui no Brasil. Parabéns por seus comentários elucidativos aí de Los Angeles.

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