Texting-While-Walking

Imagine a cena: uma mulher caminha pela rua movimentada e a cabeça está abaixada, ela está enviando uma mensagem pelo celular. Ela sorri. Ninguém presta atenção nela. Ela é bonita, terninho vermelho, batom forte, cabelos ruivos. Os dedos não param. Ela continua caminhando e cai num bueiro. A cena parece saída de um desenho animado, ou alguma propaganda engraçadinha, mas é uma mescla de algumas histórias reais que aconteceram recentemente mundo afora e, especialmente, nos Estados Unidos. Esse é o resultado da pandemia tecnológica chamada originalmente de “Distracted Walking”, ou, Pedestres Distraídos. Os números são alarmantes: só em 2012, cerca de 1.500 pessoas foram atendidas em hospitais norte-americanos com ferimentos causados por distração enquanto enviavam SMS ou navegavam na internet.

A situação é preocupante e os números só aumentam. Um dos maiores culpados pela falta de atenção pública é a natureza “divertida” dos casos atribuída pelas mídias sociais e, até mesmo, pelas vítimas. Aliviar a tensão pode ajudar a diminuir o mico, claro, entretanto, também diminui a relevância do problema. Cientificamente, a mente humana não consegue digitar no telefone e caminhar/dirigir ao mesmo tempo. O problema do “pedestre distraído” é similar ao enfrentado pelo motorista que ainda insiste em usar o telefone no carro em movimento. A distração é garantida e o acidente é questão de tempo. Já ouvi muita gente gabando-se por conseguir fazer as duas coisas, por ser “multitarefa” ou “mais inteligente”. Isso é sorte. Um dia ela acaba.

Escrever e andar: O cérebro humano é incapaz de realizar as duas tarefas simultaneamente. Não existe multitarefa, existe sorte!

Ficar sozinho por alguns minutos realmente se transformou em algo tão difícil e impossível na sociedade moderna? Eu mesmo já me peguei fazendo de tudo para checar o Twitter ou atualizar o Facebook e dei duas trombadas. Nada sério e parei assim que a ficha caiu, mas pareço estar fora da curva. Andando pelo campus da faculdade ou pelas ruas de Los Angeles, em áreas cheias de lojas ou restaurantes, a cena mais comum é aquele exército de pessoas com a cabeça baixa, dedos ocupados, foco claro. A pior sensação foi a de perceber que fiz isso ao lado da minha esposa. Uma das coisas que buscamos na internet é companhia e os primeiros estudos sobre os distraídos apontam para problemas sociais gritantes associados à alta taxa viciante dos sistemas de mensagens. O primeiro dado é meio óbvio, mas não deixa de ser preocupante: apenas 17% dos jovens usa a função TELEFONE do aparelho. Falar, só pessoalmente. O segundo é um pouco pior: pessoas habituadas com o contato constante por mensagem são mais propícias à depressão a curto prazo, ou surtos violentos, se privados do telefone por longos períodos.

walking-traffic-baby-textA ABC News publicou um estudo comparando os acidentes em Maio de 2012 e o mesmo período em 2013. O aumento foi de 100%! Uma matéria da Associate Press indicou que os casos registrados na Emergência de alguns hospitais norte-americanos quadruplicou! Em Los Angeles a metade das mortes em acidentes de carro são pedestres distraídos.

Se a progressão continuar, nem a melhor das piadas será capaz de atenuar a seriedade do problema.

Vale a pena morrer para checar o Facebook?

Embora ainda não exista legislação sobre isso, e, com certeza, vai ser razão de briga política. Já imaginou alguém dizendo para um americano radical que o Governo vai “impor” algo que o proíba de usar o telefone? A liberdade de expressão? Neste caso, o único objetivo será salvar vidas. Pensando nisso, algumas entidades já perceberam a gravidade do problema e iniciaram campanhas de conscientização. A melhor delas é do Metro LA (o sistema de transporte público), chamando atenção para os perigos da rua e pedindo aos usuários que redobrem a atenção.

Em Londres, muitos postes de iluminação ganharam estofamento para não machucar os distraídos! É mole?

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Veja alguns vídeos:
Esse vídeo feito em Nova Iorque também é ótimo!

Garota caiu em bueiro em N.Y. Mãe culpa os operários!

Chinesa caindo em buraco (ok, não foi culpa dela, mas…)

Mulher caindo em fonte dentro de Shopping; e está processando o shopping!

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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3 Comments

  1. Fábio:
    É gratificante poder acompanhar a sua trajetória no jornalismo.
    Sucesso nessa nova empreitada!
    Gostei!

  2. Ah, isso me lembra minha multa por jaywalking em New York City usando o celular. A NYPD “pegou leve” porque eu era turista, mas mesmo assim me custou 350 Obamas.

  3. Sucesso Barreto! Gostante muito do site novo.

    Só um comentário, me parece que o segundo vídeo está errado, é referente ao quarto, da fonte do Shopping.

    Abraços.

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