Uma das cidades controladas pelos rebeldes sírios.
Uma das cidades controladas pelos rebeldes sírios.

Muito se falou sobre uma intervenção militar na Síria e o que aconteceu?

Desde o início da chamada Primavera Árabe, quando os egípcios levantaram-se contra o Governo, depuseram um ditador e espalharam a esperança de reformas políticas pelo Oriente Médio e Norte da África, muita coisa mudou no cenário local. O Egito continuou em estado de confronto social. A Líbia entrou em guerra civil e o ditador Moammar Kadafi foi morto. Por fim, a Síria também iniciou uma guerra civil que continua em andamento, sob o comando linha dura do ditador (redundância!) Bashar Al-Assad. Em meio a guerra que está destruindo o país, as forças governamentais usaram armas biológicas contra rebeldes e, inevitavelmente, contra a população local. O resultado: os Estados Unidos condenaram a atrocidade e se dispuseram a intervir militarmente. A razão: medo de que armas químicas caiam nas mãos de terroristas e, claro, que a guerra civil seja mais justa (sim, é estranho, mas “eles que se resolvam”). E o que aconteceu? Bem, depende da filiação partidária de quem você perguntar!

Republicanos criticam Barack Obama por “ter uma liderança frágil e estar diminuindo a influência norte-americana ao redor do mundo”. Democratas elogiam o presidente pela postura diplomática e mais barata aos cofres públicos. Como observador externo e amigo de partidários de ambos os lados e de gente comum por aqui, vejo a coisa de forma muito clara: Obama foi brilhante e bem-sucedido no que fez. Já explico.

Syria-Civil-War

Panela de Pressão

Primeiro, os Estados Unidos pressionaram a ONU a impor restrições à Síria e exigiu a verdade sobre as armas biológicas. A ONU mandou uma equipe de técnicos para investigar, mas tudo demoraria. Então, Obama meteu as caras e disse: temos que fazer algo, não queremos ninguém com armas químicas no mundo (os EUA assinaram o tratado que bane esse tipo de armamento em 1993; apenas Angola, Burma, Egito, Israel (ha!), Coréia do Norte, Sudão e Síria não assinaram). Como Rússia e China têm poder de veto sobre ações militares da ONU, Obama pediu ajuda a David Cameron (primeiro ministro britânico). Cameron levou o pedido a votação no parlamento e levou um sonoro NÃO na cara. Sozinho, Obama fez o mesmo! “Vamos atacar, mas vou fazer tudo nos conformes e dar a ordem com aprovação democrática”. Ele até definiu o modo do ataque: uma ação de curta duração, à distância, sem tropas no chão ou aeronaves envolvidas. O objetivo: reduzir a capacidade bélica do regime sírio e explodir as fábricas e depósitos de armas químicas. E eles fariam isso com muitos e muitos mísseis.

A pressão foi forte e Obama se expôs internamente. Nesse meio tempo, os inspetores da ONU voltaram e começou o braço de ferro com a Rússia, com direito a Vladmir Putin criticando abertamente os americanos num artigo no New York Times.

O relatório da ONU saiu e corroborou as descobertas dos americanos: armas químicas foram usadas. Obama aumentou a pressão e aí entrou o golpe de mestre. John Kerry deixou “escapar” que o único jeito de evitar o conflito seria a Síria entregar o arsenal e destruir as fábricas. Muitos dos críticos atribuem essa frase a um erro ou uma escorregadela de Kerry. Duvido que o Secretário de Estado erre, mas, enfim. O fato é que essa “saída” foi abraçada com unhas e dentes tanto pela Rússia quanto pela Síria. Em poucos dias, Assad avisou que queria assinar o tratado e destruir os estoques. Foi coerção, claro. Com a arma apontada na cabeça. Mas, no fim das contas, o objetivo foi atingido e parte do arsenal já começou a ser destruído (hoje a ONU despachou um segundo time de inspetores para aumentar a velocidade do processo).

O ditador Bashar Al-Assad. "Oi? Falou comigo?"
O ditador Bashar Al-Assad. “Oi? Falou comigo?”

Isso muda o fato de Assad ser um sujeito mal, que mata criancinhas e está chacinando metade do país para continuar no poder? De forma alguma, mas o objetivo da comunidade internacional é executar as leis e tornar o mundo, pouco a pouco, num lugar mais seguro. Esse objetivo foi alcançado. Para quem não é maluc… oops, republicano… Barack Obama conseguiu duas coisas: impediu mais um conflito e, diferente de George W. Bush, não atacou primeiro e perguntou depois. A oposição continua dizendo que foi um golpe de sorte e fruto da incapacidade de liderança.

Sinceramente, um presidente que consegue evitar uma guerra (Kennedy) é muito mais hábil que aquele capaz de atirar a qualquer sinal de perigo (Bush filho). Não é mesmo?

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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3 Comments

  1. Fábio, fiquei realmente torcendo para essa manobra do Obama funcionasse. Há umas 3/4 semana atrás eu estava em Londres/Paris, e só se falava isso no noticiário, se falava muito em como os EUA queriam, num acordo, acabar com o conflito. Vejo que começou a dar certo.

    []s e parabéns por nos mostrar esse ponto de vista.

  2. Muito boa a explicação! Curti!!
    E faz juz ao título de Nobel da Paz, certo? É estranho, pois quando isso tudo começou, muita gente criticou Obama, dizendo que ele deveria devolver o prêmio que ganhara em 2009… mas ele conseguiu manter a paz usando de ameaças militares… é um meio um tanto estranho para se alcançar o fim desejado, mas será que vale, então, quando todas as outras alternativas se esgotaram?
    Abraços!

  3. […] as diferenças tribais no Iraque, onde ninguém aceita a opinião de ninguém; a mão de ferro de Bashar al-Assad na Síria; o Irã dos aiatolás, ainda radical, antagonizando o Oeste e pedindo o extermínio de Israel […]

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