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James Spader estava cansado, fisicamente, de Boston Legal; não vê a hora de estrear na Broadway e comenta sua carreira em entrevista inédita.

Se você pudesse conceder um desejo a Alan Shore, na reta final de Boston Legal, qual seria?
Uma soneca! (risos). Se ele pudesse parar por uma hora e dormir, seria ótimo. Estava cansado o tempo todo, ou melhor, eu estava. Logo, ele estava (risos). Foi uma trajetória muito longa para Alan e Danny (William Shatner) e tudo foi muito cansativo. Desejamos muitas coisas para nós mesmos, assim como nossos personagens, e quando conseguimos muitos deles, a carga pode ser maior que imaginamos. E isso cansa.

Em algum ponto você desejou se tornar um ator e acha que isso se realizou? Ou foi algo que simplesmente aconteceu?
Nunca desejei esse tipo de coisa. Foi uma mistura da situação certa com inspiração momentânea. Nunca fui muito esperto neste ponto, pois nunca fui muito bom em planejar as coisas, nunca fui de ficar pensando em valores, ou de ver analisar toda a situação.

Quer dizer nunca planejou seu futuro profissional?
Minha carreira é um pouco confusa. Horrível, para dizer a verdade (risos). De verdade, sou um péssimo planejador e isso nunca passou pela minha mente. É só analisar os filmes e suas repercussões para notar que há muita instabilidade, quase uma montanha-russa em termos de sucesso e relevância. Algumas pessoas disseram que Boston Legal foi meu “retorno”. Eu estava trabalhando, esse pessoal é que não via os filmes que eu fiz. Sempre fiz muitos filmes independentes ou B, pequenos orçamentos e coisas cheias de significado para mim, mas sem nenhuma projeção na mídia. Filmes que fiz para me sentir bem. Muitos deles ninguém viu.

Por exemplo?
The Music of Chance, baseado no livro do Paul Auster, que eu adoro. Até mesmo Crash, do David Cronenberg, é um filme que pouca gente viu na estréia. Tanto é que saiu outro filme com nome parecido e ninguém se preocupou em confundir. Depois ganhou projeção, mas no começou era um projeto bem pessoal mesmo.

Eu vi.
Fez mais sucesso fora dos Estados Unidos, fato. Quer outro exemplo? Secretary! Fiquei apaixonado, mas acho que só umas dez pessoas viram.

Imagina!
Pode apostar! Eu sei quantas pessoas viram, afinal, receberia uma porcentagem da bilheteria – e US$ 15 mil depois de um certo número de espectadores – cuja meta era bem baixa, aliás, e nunca chegamos perto desse número. Logo, eu sei quantas pessoas viram. Não que isso faça diferença, pois minha mãe foi ver, alguns amigos queridos e você foi lá me ver. Então já me sinto bem (sorriso). Não sou daquele tipo que se considera fundamental ou capaz de mover multidões. Faço meu trabalho.

Você considera seu trabalho como algo capaz de apenas entreter ou modificar as perspectivas?
Não acredito muito nessa história de provocar mudanças. Gosto de provocar, mas tenho certeza da efetividade do cinema nesse aspecto. Posso ser muito cínico nesse aspecto, mas eu acho que vale a pena continuar tentando. Acho que é legal se opor a algumas questões e colocar os problemas na mesa, sabe? Forçar o pessoal a pensar no assunto.

Mas Boston Legaltrazia muitas dessas questões. Seria um objetivo ou somente apoio para o roteiro?
Veja bem, problemas políticos e sociais são a espinha dorsal da série e toda a semana nós martelamos esses problemas. São assuntos essenciais para a série, com a esperança de que alguém que esteja vendo absorva estas opiniões e que isso afete a maneira como ela encara este problema. Mas é por isso que fazemos? Não, entretenimento em primeiro lugar, mensagem na seqüência. Mensagens chatas não são transmitidas. Tudo que podemos fazer é continuar tentando da melhor maneira possível.

Então no caso da Broadway será totalmente entretenimento?
Não, não. Totalmente diferente. É uma peça de David Mamet, chamada Race. Sua base é formada por quatro personagens: dois homens brancos, um homem negro e uma mulher negra e o assunto é, óbvio, raça. Espero que seja muito divertida, mas ela foi feita com um outro enfoque muito além do entretenimento. Nesse projeto temos uma missão.

Empolgado com a Broadway?
Sim, eu não agüento mais esperar. Depois de trabalhar na TV por 6 anos, o palco é o lugar onde quero estar agora. Vai ser muito bom representar é tão diferente. Não sei porque diabos acabei fazendo seriados de TV. Pensei que atuar fosse um trabalho noturno; algo perfeito para mim. Adoro ficar acordado de noite, estar lá representando e fazendo os outros acreditarem em mim. Tudo se encaixa. Representar à luz do dia não parece certo.

Por que esse desespero para ficar longe da TV?
Gosta de sorvete?

Sim!
Eu também. E é a mesma coisa, mas já imaginou tomar baldes de sorvete todos os dias? Além de enjoar, você vai passar mal. Um seriado de TV é igualzinho; adorei e ainda adoro, mas a intensidade e todo aquele tempo foi exagerado. Não é nada fácil gravar 22 episódios por ano.

E a sua interação com o William Shatner?
É muito legal, mas é muito trabalho. Uma semana inteira, todos os dias escrevendo, reescrevendo, aprendendo, memorizando. É coisa demais. Isso sem contar o tempo falando com os roteiristas pelo telefone no fim de semana. Requer muito da mente e do corpo, logo, é algo muito exaustivo. Normalmente, carregava três ou quatro roteiros cheios de anotações. Isso tudo numa boa semana.

Como reagiu à notícia da morte de John Huges?
Fiquei chocado. Eu estava falando com alguém no telefone e essa pessoa me contou, depois fui procurar um jornal para confirmar. Não tinha contato com o John há décadas e ele, de alguma forma, se afastou da indústria. Se ele ainda estive envolvido hoje seria como produtor ou algo do gênero. Nunca chegou a me dirigir, mas trabalhamos juntos num dos meus filmes, que foi produzido pela companhia dele. Era um sujeito muito ativo e presente no set de filmagens. Nos tornamos grandes amigos, especialmente quando morava em Nova Iorque e filmava aqui, então vivia num hotel. Ele sempre me chamava para visitar a casa dele e passar o tempo com Robbie e as crianças; na piscina ou simplesmente batendo papo. Foi uma época de ouro. Adorava rir e vivíamos tirando sarro um do outro. Lembro que John escrevia sobre tudo e o tempo todo. Qualquer coisa que acontecia no nosso dia a dia, ele escrevia algo. As noites de John eram dedicadas à sua escrita, mas sem se fechar para o mundo. Quando ele estava escrevendo Curtindo a Vida a Doidado, pode apostar que palpitei, ouvi ou testei várias daquelas frases enquanto contava piada, tomava café ou simplesmente batia papo com ele.

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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2 Comments

  1. Acho que o link já era…

    Mas pelo que li o cara parece meio inseguro. Confesso que não gosto dele, mas eu sei os filmes que ele fez 🙂
    Vai lá James, você não é tão ruim!

  2. O filme dele que mais gostei foi Turf,Turf O Rebelde lançando
    aqui no Brasil (1985) eita filme bom! eu gostava muito da quela loirinha que contracenava com ele,
    mais sucesso a você:James Spader

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