Há alguns anos, quando Zack Snyder e o elenco de 300 foram ao Brasil divulgar o filme, me meti num avião no auge da crise aérea para participar do evento. Na bagagem levava minha cópia capa dura e widescreen da graphic novel de Frank Miller, que já havia lido e relido N vezes. O evento durou dois dias, mas o melhor estava guardado para o final: entrevista com Snyder. Havia levado o livro para referência e, quem sabe, alguma idéia maluca de pergunta durante as mesas. Mas não precisei, afinal, assumo que adorei 300 e pronto. Assim tudo fica mais fácil, especialmente entrevistar, pois você passa a bater papo sobre o assunto como se ali na sua frente estivesse um colega tão fanático quanto você.

Falar com Santoro foi ótimo, Gerard Butler me impressionou e ganhou um fã de vez, Lena Headey foi um porre por estar deslocada e ter se recusado a falar de Sarah Connor Chronicles (porque será, né?), mas nada se compara ao encontro com Zack Snyder. Foram quase 40 minutos de conversa, que deveriam ter sido 30, mas papo foi indo tão bem que ele aproveitou para desacelerar depois de um dia intenso de entrevistas.

Lá pelo final da conversa, ele se referiu a uma jornalista que o criticou pela “mudança” numa das frases do Dilios “a world without mysticism and tyranny”, dizendo que ele alterou o original para atualizar a crítica política. Zack ficou indignado, afinal de contas, na cabeça dele, ele não havia mudado. Foi nessa hora que ele percebeu que eu carregava uma cópia da graphic novel e pediu para olhar. Encontrou o balãozinho específico e pediu para que eu traduzisse o que estava escrito ali. E, realmente, era diferente, mas por conta da tradução brasileira, não de alguma mudança dele. Não trouxe meu exemplar com medo de danificá-lo na viagem então não posso dizer exatamente o que está escrito, mas posso contar o que aconteceu depois.

Do nada, Snyder pegou minha caneta e enquanto falávamos sobre a ressonância política que o filme conseguiu, ele desenhou o Rei Leônidas na página de abertura da minha edição, com direito a um balãozinho escrito em grego. Quando terminou o desenho, perguntei o que estava escrito. Ele riu e respondeu: vai procurar! Deu uma daquelas gargalhadas malucas, me cumprimentou e encerramos por ali. Ah, a frase: Come and Get them!

Pois bem, anos mais tarde – ontem, mais precisamente – lá estou em minha terceira entrevista com o cara. Debaixo do braço, quer dizer, escondida embaixo do meu caderno de anotações estava uma cópia em capa dura de Watchmen, recém-adquirida na Comic-Con. Terminou a entrevista e, dessa vez, como haviam outros jornalistas participando, saquei o exemplar e me preparava para pedir uma assinatura (afinal, gostei da idéia quando não havia planejado, então precisava aumentar a coleção, né?) tomei uma invertida.

“Fiz um Leônidas para você no Brasil, não foi?”, Snyder disse enquanto via meu rosto perder a cor. Eu devo ter ficado como aqueles boxeadores que ficam um ano dizendo como vão trucidar o adversário e, no primeiro assalto, levam tanto soco que dá dó. Foi hilário, demorei uns segundos para responder e o fiz rindo a beça. Sinceramente, me contentaria com uma mera assinatura, afinal dificilmente tieto durante os eventos, mas, de repente, ele começa a desenhar um chapéu. Pensei que fosse fazer o rosto do Rorschach, só que ele se empolgou com a platéia: todos os jornalistas da mesa ficaram em silêncio olhando para o desenho. Ele simplesmente desenhou o personagem inteirinho.

O resultado está aí embaixo. =D
In Snyder we trust!

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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18 Comments

  1. Vende essa revista que você consegue pagar a facul da Ariel! =D

  2. O cara além de lembrar de vc, lembrar de ter desenhado o Leônidas, ainda desenha o Rorschach no seu exemplar do WATCHMEN… Cara, vc é sem duvida uma pessoa abençoada!

    IN SNYDER WE TRUST!!!!!!

  3. Sensacional, esta é para bater na cara de muita gente metida a besta em Barretão… hahahahah

    Abraços

  4. Realmente essa revista vale ouro, depois mostra o primeiro desenho, o do Leonidas para gente ver.

  5. Foi bem legal a atitude do Snyder, que além de tudo ainda demonstrou ter uma baita memória!

  6. In Snyder we trust![2]

    Quero mais dea entrevista!!!Muito mais!!!!

  7. […] quem sabe, alguma idéia maluca de pergunta durante as mesas. Mas não precisei, afinal, as… leia mais fonte: […]

  8. “In Snyder we trust!!!!” (3)

    “Sensacional, esta é para bater na cara de muita gente metida a besta em Barretão… hahahahah” (2)

    FÁBIO, que tal fazer uma promoção entre os seus leitores e sortear as edições de 300 e WATCHMEN “personalizadas” pelo ZACK SNYDER?

    Acredito que o pessoal concordará com essa idéia…

    Saudações,

  9. @ Braga
    O pessoal pode concordar, EU não! =D

    Sim, sou possessivo! :p

  10. @Barretão
    Sortear pra leitores?! =D
    NO MÁXIMO vender, a um preço MUITO caro. =D
    Ou, o que eu acho mais certo, guardar pro resto da vida. E, como vc é mais velho, deixar pra mim de herança. =DDDDDDDDDDD

  11. @Borbs
    HAHAHA
    A herança da Ariel já é parruda nesse sentido. Além das graphic novels, ela tem uma das poucas jaquetas de couro oficiais do Rogue Squadron – dadas dentro de Skywalker Ranch – e um ovo do Alien! 🙂

    Pô, me chamou de idoso agora! Muleque! =D

  12. O cara além de lembrar de vc, lembrar de ter desenhado o Leônidas, ainda desenha o Rorschach no seu exemplar do WATCHMEN… Cara, vc é sem duvida uma pessoa abençoada! [2]

    com certeza os 2 exemplares valem mto, mas to com o borbs, sem duvida vale mto mais guardar.. é akele tipo d coisa q só voce e, qm sabe, otras pocas pessoas no mundo terão..

    eu só venderia se tivesse precisando muito, mas muito, da grana.. e olha q nem assim axo q seria capaz..

  13. Na boa, acho besteira dá pro Zack Snider autografar o quadrinho. Ñ foi ele q escreveu e nem desenhou. Quando ele veio lançar 300 aqui meu amigo perguntou se eu ia levar a minissérie pra ele assinar. Eu disse: “Claro q não! Se fosse o Frank Miller, com certeza faria”. No DVD tudo bem, pq é obra dele, mas nos quadrinhos acho nada a ver.

  14. […] vídeos, entrevistas, e momentos onde o diretor do filme desenha personagens para jornalistas (ou apenas para um), que o processo aberto pela Fox contra a Warner sobre os direitos da distribuição de Watchmen […]

  15. […] vídeos, entrevistas e momentos onde o diretor do filme desenha personagens para jornalistas (ou apenas para um), que o processo aberto pela Fox contra a Warner sobre os direitos da distribuição de Watchmen […]

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