Uma noite, uma profecia e uma civilização ganham novo significado quando um evento assustador muda os rumos do planeta. Filhos do Fim do Mundo revela esse segredo com roteiro e direção de Fábio Madrigal Barreto.

Antes de mais nada, assista ao filme.

Só leia se já assistiu ao filme, sério.

Uma das maiores criticas feitas à produção cultural moderna refere-se à originalidade. É complicado demais encontrar uma ideia, um formato, uma situação inusitada ultimamente, especialmente se levarmos em conta o salto quantitativo no entretenimento ao longo dos últimos 15 anos. Seja pela facilidade da tecnologia ou pela queda das barreiras físicas, as chances de que alguém em algum lugar do mundo tenha pensado o mesmo que você são imensas. É o tal do inconsciente coletivo provando que realmente existe, a diferença é que agora a gente tem certeza! Justamente por ser difícil, resolvi encarar o desafio. Em outubro do ano passado, enquanto conversava com um amigo escritor (Douglas MCT, autor de Necrópolis) pensei em escrever um livro sobre o fim do mundo. O tão falado apocalipse. Mas algo precisava ser diferente, algo precisava ser realmente incômodo e, como vocês bem sabem, odeio modinhas e repeli qualquer ideia que envolvesse zumbi. O resultado foi um prólogo de menos de 1 página de Word. Essa página originou um livro de 200 pgs e também gerou o roteiro do curta-metragem Filhos do Fim do Mundo (When It Ends, 2011, EUA/BR) que lanço hoje. Esse é o prólogo do livro, para não deixar dúvidas.

Essa estreia é o fim de um ciclo maluco da minha vida e também da carreira, pois, pela primeira vez precisei coordenar um set completo, cheio de gente, cheio de decisões a serem tomadas e cheio de problemas a serem resolvidos. Assistir cinema é lindo, teorizar sobre o que está na tela é um prazer e uma viagem pessoal, mas estar diante da tela branca mais assustadora do mundo é outra história. Adoro o argumento desse curta (sou suspeito, mas foi por isso que o escolhi; por ser envolvente e, até certo ponto, comercial) e fiz coisas impensáveis para algo que, essencialmente, era um trabalho de conclusão de uma das minhas matérias na LACC. Optei por filmar Filhos do Fim do Mundo em Albuquerque, no Novo México, onde estavam filmando Os Vingadores, yeah! :p Fiz testes de elenco via internet, preparei tudo à distância e tive muita ajuda dos produtores locais – Yu Lin e CJ Patterson. Tudo isso com quase nada de dinheiro, pelos padrões cinematográficos. O orçamento final bateu nos US$ 1,000 (uns R$ 1.500,00).

Soando repetitivo (especialmente se você leu os textos sobre Distress), é preciso ressaltar os meses de pós-produção necessários para concluir esse filme. Basicamente, filmamos tudo em quatro noites (e mais duas horas de segunda unidade feita em Londrina); o storyboard ficou pronto em uma semana e o roteiro levou coisa de 3 horas para ser escrito, afinal, já tinha a história na mão, só precisei ampliar e adaptar. Isso tudo há praticamente seis meses! De lá para cá tudo se resumiu a pós-produção, ou seja, edição, correção de cor, gravação de narração, aprender a mexer no Adobe Premiere, e a pior de todas: encontrar um especialista em som para garantir a qualidade ideal. Todo o resto consumiu tempo, mas essa última foi mortal. Basicamente, o filme atrasou três meses só por causa disso.

Por um lado foi bom, pois a maturação provocada pela demora ajudou bastante. Por outro, estava me deixando doido pela incapacidade de lançar o filme. Resolvi esse problema com a verba obtida pela rifa e, depois de gastar muito tempo tentando achar alguém que fizesse de graça, acabei contratando o Cesar Antunha, lá de Santos. Essa verba estava dedicada para um hotsite, mas o que é mais importante? Filme ou site do filme que não existe por que não tem áudio mix? Não precisei pensar muito.

Mas o gasto ainda não estava encerrado e, como todo diretor/produtor sabe, botar a mão no bolso é necessário sempre que surge um beco sem saída. Horas antes da pré-estreia dos investidores (também conhecidos como Pessoal da Rifa!), as legendas enroscaram e o jeito foi comprar um software que só faz isso. Pronto. O resultado vocês viram acima. O pior é saber que poderia ter ficado melhor, mas não tive alternativa além de finalizar o processo inteiro sozinho. Essa é uma grande lição para o próximo, aliás, envolver mais gente responsável por determinadas tarefas. Fazer sozinho cansa, ou melhor, esgota e erros acontecem. No cinema, erros não podem acontecer. Eles tiram a pessoa do filme, quebram a magia e acabam se tornando na única coisa que o espectador vai ver, lembrar e comentar, não importa o quão legal o resto do filme esteja. Já notou? Preste atenção.

Sei de cada falha na tela e fora dela. Fazer filmes é solucionar problemas e, acredite, eles são muitos. Cheguei a questionar a qualidade por várias vezes, fiz alterações e precisei fazer algumas mágicas aqui e ali. Foi uma loucura. Não gosto de fazer nada ruim, não podia deixar os investidores na mão e, acima de tudo, queria fazer um filme do qual me orgulhasse. Sempre sonho alto demais, mas, ei!, foi isso que me fez chegar aqui.

Tenho orgulho de Filhos do Fim do Mundo. Admiro seu conceito e a vida que ele criou durante sua realização, afinal, foram mais de 40 pessoas envolvidas, dois países, quatro estados… tudo isso por causa de um sonho. É um tesão fazer isso e como diz o ditado hollywoodiano: seu melhor filme é sempre seu próximo filme; logo, que venham “Pétalas Urbanas” (2012), “D20” (2012), “Eles Dominavam os Céus” (2013) e “Jurassic Power” (2013).

Obrigado a todos, espero que tenham gostado. Sugestão: baixe o arquivo e grave um DVD para assistir na TV. É muuuuuuuito mais legal do que ver na tela do computador! 😀

Essa é a versão em inglês, sem legendas:

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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10 Comments

  1. Olá Barreto!

    Em primeiro lugar, parabéns pela realização do seu segundo curta-metragem; adorei “Filhos do Fim do Mundo”!

    Existem algumas falhas durante a narrativa, como vc mesmo disse no texto acima, mas nada que comprometa a história contada. A montagem ficou muito boa, e a qualidade de iluminação e enquadramento das cenas também merecem destaque. Gostei muito da trilha sonora, não sei se o termo técnico correto é mixagem, mas enfim, o “som” está com uma qualidade incrível também. As legendas poderiam estar um pouquinho melhor sincronizadas, mas nada grave e tendo em vista a forma como foram feitas, é perfeitamente justificável.

    Apesar de não me manifestar como deveria, acompanhava seus posts aqui no site e também suas partipações em podcasts pelas interwebs, fico sinceramente feliz em poder assistir um dos seus sonhos se tornando realidade. Que venham mais curtas e longas (?), estarei aqui para assistir esta filmografia crescer.

    Uma última coisa: fiquei muito intrigada pela plot do curta… o livro já tem alguma previsão de lançamento?

    Bjs e sucesso!
    P.s.: [SPOILER] cena do enfermeiro chorando: é o Barreto ali? Créditos finais: era o Barreto ali! LOL [/SPOILER]

    1. Dayane, assista novamente e verá o barreto em um lugar mais. #easteregg

    2. Oi Dayane, tudo bem?

      Valeu!

      Concordo contigo, alguns atalhos precisaram ser tomados por conta de falta de grana e por uma coisas que esqueci de contar no texto: perdemos um ator no meio das filmagens, ou seja, 4 cenas foram pro lixo e nao tinha como refilmar. E era só o começo original da história. :-/ De fato, nao compromete mas foi grande aprendizado em termos de criação de estrutura e tudo mais.

      O som realmente é forte e o filme foi filmado com isso em mente, até por isso demorou tanto para sair. Legendas vão ganhar uma revisão de sync, mas sou limitadíssimo nisso. Há trocentas pessoas legendando séries e filmes todos os dias, de graça e ainda sendo chamadas de piratas, quando vc tenta achar alguém para fazer algo brasileiro, legal legalmente falando, rs, nenhum deles responde. Curioso, não?

      Sobre o spoiler. Leia os créditos! :p

      Bjs,
      Fábio

  2. Barreto,
    Parabéns por todo seu trabalho!! Excelente!
    Uma dúvida, o livro já foi lançado ou tem previsão? Não vejo a hora de lê-lo todo!

    1. Oi Henrique,

      Ainda estou negociando os direitos do livro. Espero que alguma editora publique ainda no primeiro semestre de 2012. 🙂
      Avisarei quando fechar o negócio.

      Abraço e obrigado!

  3. […] informações sobre o curta no SOS Hollywood. « Coisas do Ceará: Cachorro andando a cavalo (!?) Você pode deixar seu comentário, […]

  4. Barreto,
    Fantástico!
    Gostei do curta. Acho que não só precisava ter no final a data 2012.
    O filme não faz referência direta a data. Estava bem intimista, dando margem para várias interpretações.

    Acho que você poderia escolher outros curtas e produzir um dvd com vários curtas com a mesma temática. Tipo Eu Amo Paris e Eu Amo New York

    Vi um curta que achei bem interessante. Na mesma temática de Distrito 9.

    Document 12.21.12
    http://www.youtube.com/watch?v=L2Cf_u7FPL0

    Estou pesquisando outros para fazer uma compilação.
    Gosto muito de curtas e documentários.
    Vou ver se compilo algo e lhe enviarei o link

    Parabéns pelo curta e pelo site.
    Abraços,
    Cristiano
    Belo Horizonte – MG

  5. Ola,

    Primeiramente gostaria de parabeniza-lo pelo curta e ainda mais pela história dentro do tema.

    Você falou muito bem sobre os clichés sobre o tema fim do mundo e pelo prólogo vem dando uma visão nova.

    Estou ansioso pelo livro, certamente comprarei na pré-estreia, pode mandar para o meu email e aguardo ansioso para poder lê-lo.

    Estou voltando para a midia da internet para trabalhar com colunas e montando meu próprio blog. E pode contar que o seu livro assim que sair será um dos comentados.

    Me orgulho por ter pessoas como você no Brasil que são profissionais e trazem novas coisas para nós fãs integrais de uma boa leitura/Filme.

    Forte abraço

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