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Sábado foi um dia marcante. Obviamente, o fato de ter entrevistado Frank Miller entrou para minha história pessoal, porém, o lado ruim do penúltimo dia de Comic-Con foi bastante inesquecível. Tudo por conta do gigantismo do evento e, claro, do aumento absurdo de visitantes, afinal de contas, quem trabalha durante a semana também poderia participar. E foi um pandemônio.

Para ajudar, foi no sábado que começou a programação pesada de TV e, se alguém ainda tinha dúvidas, ficou claro de que esse tipo de conteúdo é o verdadeiro responsável pelo sucesso absoluto da San Diego Comic-Con. A maior parte das atenções estaria voltada para o Hall H, em seu último dia de atividade, que fecharia a programação com chave de ouro: Heroes – e o primeiro episódio da nova temporada -, seguido por Lost, com um Q&A apresentado pelos produtores.

E tudo foi caótico. Muito mais procurado que os painéis de cinema ou quadrinhos. Missão quase impossível.

Quem conseguiu entrar a tempo de ver Heroes encarou pelo menos 3 horas de fila, ou seja, precisou chegar ao convention center por volta de 8h da manhã e, dependendo da sorte, andou cerca de 2 milhas (que era a extensão da fila). Entretanto, o cenário caótico conseguiu ficar pior ainda. Cerca de uma hora antes do início do painel de Heroes, a fila já somava aproximadamente 3.5 milhas, o que significava andar duas vezes essa distância (ida e volta) e uma espera de 3 horas e meia! Desinformadas, muitas pessoas passaram esse tempo todo aguardando para tentar entrar em Heroes, mas tiveram acesso apenas depois de 15 minutos do painel de Lost. Ou seja, perderam a manhã toda numa fila.

O gigantismo da Comic-Con tem esse problemático revés que transforma um dia de verão na Disney em brincadeira de criança se comparada ao volume de fãs que lotou todos os eventos principais ao longo da convenção. Levando-se em consideração as duas horas e meia de espera para o painel, mais 40 minutos em fila para o brinde temático do tal painel e a duração do mesmo, significa que o visitante gasta cerca de 4 horas para ver apenas um dos eventos. Sem problemas para quem é fã de um dos temas e vai exclusivamente para aplacar sua tara pessoal, mas quem quer aproveitar mais oportunidades acaba ficando preso.

Pois bem, voltando à programação. Masi Oka foi o destaque de Heroes e o povo mostrou, novamente, os motivos que levaram Hiro a se tornar o personagem predileto da nerdaiada. O primeiro episódio deixou todo mundo de boca aberta, e não é por menos. Leia o resumão aqui, feito ao vivo, direto do Hall H. =]

Aí Lost começou. Foi um pequeno pandemônio quando os produtores chegaram ao palco, porém, logo que as perguntas começaram, a coisa ficou um pouco desinteressante. Perguntas não, pois foi uma seqüência de “eu tenho uma teoria doida, vocês concordam?”. Os produtores, espertos que só, já sabiam praticamente tudo o que seria perguntado e prepararam uma caixa lotada de brindes, todos relacionados ao que era perguntado. Por exemplo, quando alguém fez uma crítica à série, recebeu o box de DVDs de Heroes; quando perguntaram sobre Richard Alpert, foi entregue uma camiseta “Eu fiz uma pergunta besta sobre Richard Alpert”. E por assim foi.

A coisa melhorou quando eles começaram a falar da Dharma Initiative (e começou o novo ARG), que patrocinou o evento e realizou uma série de gravações no seu estande durante a Convenção. Era um teste para ser contratado, ou não, pela Dharma. O “presidente” da iniciativa foi ao palco e disse que todo mundo foi ridiculamente péssimo – arrancando ótimas gargalhadas – e chamou os “poucos” que se salvaram. Entre eles, claro, um GORDO! Os sortudos ganharam o direito e ver um vídeo exclusivo no estande.

Chamei a atenção para isso, pois, poucos minutos depois – logo após Matthew Fox começar a falar um pouco sobre a série – o Gordo voltou correndo para o palco, gritando que “tínhamos o direito de ver o que ele tinha visto e… filmado!”. Armação, claro, mas ficou muito engraçado! Ele gritava: “do or die! They cannot stop me!”. Claro que, segundos depois, Damon disse para mostrarem o vídeo do Gordo. Assista a ele aqui. =]

Uma coisa eu digo. Vi e ouvi o material direto da fonte e juro de pé junto que a voz da pessoa que gravou o vídeo é do FARADAY! O futuro e, claro, os xiitas que me provem o contrário! Se é que eles discordaram. =]

Desde o começo do painel de Lost, porém, fiquei encucado com uma coisa: algo grande e envolvido em plástico estava escondido na lateral do palco. Pensei que pudesse ser alguma revelação ou surpresa, já que eles haviam prometido uma (e vieram duas, Matthew Fox e o vídeo exclusivo). Era algo de pelo menos 2 metros e meio. Bom, minha dúvida foi solucionada no momento em que Lost acabou.

Terminator Salvation era o próximo painel. O objeto gigante era, nada mais nada medos, que um T-800 – a principal unidade de combate da Skynet na guerra contra os humanos. Com movimentos na cabeça e braços, além da tradicional luz vermelha nos olhos, o robozão ficou encarando a galera durante toda a apresentação.

Aliás, sua presença motivou uma garota vestida como Sarah Connor a ir perguntar “quem foi o irresponsável que colocou aquela máquina de matar na frente de tantos inocentes”. Esse assunto me leva à razão que transformou Terminator Salvation no segundo melhor painel da Comic-Con, ficando apenas atrás do da Fox, por conta de Wolverine. Entenda os motivos clickando aqui. =]

Encerrado o show era aquela hora de lembrar que não tinha comido nada, mas, para variar, não havia tempo. Em 15 minutos começaria minha entrevista com Frank Miller, no Hard Rock Hotel, que fica em frente ao centro de convenções. Foi bom sair daquela insanidade um pouco, embora as ruas fiquem tão movimentadas que a única mudança é o fato de não haver ar condicionado e existir um pouco mais de espaço para andar.

Fui até lá. Coração começando a palpitar um pouco mais forte, afinal, digam o que quiserem, sempre idolatrei as graphic novels de Frank Miller. Li quase tudo que ele fez e sempre fui aficionado por 300, antes de qualquer idéia para filme ser sequer cogitada. Cavaleiro das Trevas, então, nem se fala, foi a primeira HQ que eu li na vida!

Consegui um ótimo lugar: imediatamente ao lado direito de Miller. Do outro lado estava a produtora Deborah Forte, que, antes do papo começar, falou comigo sobre o que aconteceu com a diretora de Punisher: Warzone. A mulher foi descartad, pois o estúdio mexeu na edição final e ela não concordou. Começo a ficar com um pouco de medo, pois Deborah disse que viu o corte de Lexi Alexander e adorou o resultado! Leia mais aqui. De qualquer forma, medo.

Bom, momento semi-ataque cardíaco. Frank Miller entrou na sala. Vestindo um blazer e seu tradicional chapéu, foi rapidamente abordado pelo correspondente italiano que o cumprimentou. Em segundos, todos os jornalistas presentes apertaram a mão de Miller. Preferi ficar por último, para curtir a emoção do momento. Primeiro Harrison Ford, agora o Miller? É muito para o meu coração. Mas chegou a hora. Nunca me esquecerei. Mas saborear essa realização ficaria para depois, já que era hora de entrevistar o homem.

Foi complicado driblar perguntas vazias sobre o que ele acha da Comic-Con, por exemplo, mas consegui encaixar minhas principais colocações e isso é o que importa. Ele realmente ama o que faz e fala com paixão e, em alguns momentos, aparenta uma leve “insegurança”, mas tudo por conta de quase gaguejar de vez em quanto. Miller é aquele tipo de sujeito que não tem muitas dúvidas uma vez que a decisão está tomada.

Deborah Forte citou que, certa vez, ela não entendeu uma das cenas e quando foi tentar esclarecer o problema com Miller, ele olhou o trecho e simplesmente amassou toda a cena, jogou fora e reescreveu. Também, o que esperar de um sujeito que produziu algumas das maiores obras de arte dos quadrinhos? Ficar elucubrando não é o caso, já que não estamos falando de um roteirista iniciante. E por isso a parceria Deborah/Miller funcionou tão bem, de acordo com os dois, pois eles discutiram quase tudo que precisava ser discutido antes do início do trabalho e isso conferiu aos dois bastante certeza do que precisava ser feito.

E, importante, não houve interferência da Lionsgate no processo criativo. Portanto, sucesso ou falha será responsabilidade dos dois. Felizmente, encerrei a mesa-redonda de maneira efetiva – eu era o único na mesa que entendia algo sobre quadrinhos – e as respostas dele realmente foram importantes para se entender The Spirit no cinema.

Cumprimentei-o novamente antes de ir embora e segui o caminho de volta para o convention center, onde alguns painéis me aguardavam. Antes, aceitei outro “assalto” e paguei US$ 8 por uma pizza brotinho! Beleza, né? Mandei algumas matérias para o Judão e era hora de encarar uma nova fila. Objetivo: Wolverine and the X-Men, estréia mundial! Onde: subside do inferno – salas 6CDEF, ou melhor, supersala F.

Uma hora e meia de fila. Centenas de pessoas já aguardavam há coisa de 2 horas quando cheguei ao local. E dá-lhe espera. A noite caía lá fora e, com isso, a temperatura. Os fãs, porém, se preparavam para o ápice da pavonice: Maskarede, ou melhor, baile de fantasias tradicional da Comic-Con. Era a hora de todos os alucinados por animes recriarem suas ceninhas sem graça – desculpem, mas num palco daquele tamanho, não funciona. Animes normalmente funcionam em close ups a dependem muito da expressão de seus personagens. Nesse sistema vá ao palco para 4000 pessoas, não há como reproduzir esses elementos. E, claro, das fantasias meramente figurativas – sem interpretação – receberem seus merecidos créditos. Fiquei sabendo que os Caça-Fantasmas – todos os 200000 times que apareceram fantasiados – foram altamente ovacionados. Ótimas fantasias.

Bem, tudo isso acontecia e eu estava sentado no chão e escrevendo enquanto a fila não andava. Para sorte de todo mundo, o painel anterior era da comediante Sarah Silverman, logo, outro público. Praticamente todo mundo saiu para que os fãs de quadrinhos e animação entrassem.

Fim da espera, fome voltando e a bateria do laptop devidamente morta. Era hora de ver meu herói predileto botar para quebrar. Confira o resumão do primeiro episódio aqui. =]

Já era tarde e hora de voltar para a base. Saí da convenção feliz por ter assistido ao desenho animado e por relembrar os bons momentos na TV. A cidade estava caótica com diversas festas rolando. Passei pela festa da DC Universe, mas estava lotada demais. Melhor voltar mesmo. Peguei um sanduba no Subway e me recolhi. Mais um dia cansativo, mas extremamente produtivo e inesquecível. In Miller, I trust. Tirando Robocop, claro! 😛

Fábio M. Barreto

Fábio M. Barreto novelista de ficção, roteirista e diretor de cinema e TV. Atuou como criador de conteúdo multimídia, mentor literário e é escritor premiado e com vários bestsellers na Amazon. Criador do podcast "Gente Que Escreve" e da plataforma EscrevaSuaHistoria.net.
Atualmente, vive em Brasília com a família.

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4 Comments

  1. É realmente inacreditável que tenhao dedo do Miller em Robocop 2. Quiseram que ele fizesse The Dark Knight com aquele filme e deu no que deu.
    Mas, pelo menos, serviu de lição e parece que tal totô não se repetirá tão cedo na vida do gênio.

  2. Parabéns pela excelente cobertura do JUDAO na SAN DIEGO COMIC CON.
    FRANK MILLER RULES!
    Apesar de ROBOCOP 2…
    hehehe
    Falando sério, nem achei tão ruim, apenas se comparado com o primeiro.
    Aguardo ansioso pela entrevista completa com o “PRIEST” na próxima SCIFI NEWS.
    Também estou empolgado por TERMINATOR SALVATION e, aproveito a ocasião, para perguntar se ouviste algo sobre o suposto final divulgado no aintitcoolnews.
    Saudações,

  3. Poxa! O Robocop do Miller foi todo reescrito pelos produtores! Pelo que eu me lembre não sobrou quase nada da versão dele, que era muito boa.

  4. Fabiovsky, PARABÉNS novamente!
    Frank Miller, uau! Nem precisa comentar nada. Sensacional seu relato, my friend, e continue caprichando para a gente ler depois, falou?
    Abração

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